Notícia

Estudo na Antártica confirma: quanto mais fina a camada de ozônio, maior é o dano do sol na pele

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP foram à Estação Antártica Comandante Ferraz para medir as lesões no DNA induzidas pela luz ultravioleta em diferentes meses do ano

NASA-NOAA/Wikimedia Commons

Fonte

Agência FAPESP

Data

segunda-feira, 22 fevereiro 2021 12:40

Áreas

Monitoramento Ambiental. Mudanças Climáticas. Saúde.

A exposição à luz solar sem proteção induz lesões no DNA que podem provocar mutações relacionadas ao câncer de pele. A camada de ozônio é importante para filtrar e impedir a entrada dos raios ultravioleta na atmosfera. Para verificar os efeitos da radiação UV no local onde se forma o buraco da camada de ozônio, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) foram até a Antártica e mediram os danos no DNA causados pelo sol da região. Os resultados não deixam dúvida: quanto mais fina a camada de ozônio, mais lesões foram observadas.

O estudo foi coordenado pelo Dr. Carlos Menck, professor do ICB-USP e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os dados foram divulgados na revista científica Photochemistry and Photobiology. Participaram pesquisadores da Universidade de Havana, em Cuba, e integrante do grupo coordenado pelo Dr. Pio Colepicolo no Instituto de Química da USP (IQ-USP).

Os testes foram realizados na Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira de pesquisa, entre novembro e dezembro de 2017. Segundo o Dr. Carlos Menck, as amostras foram expostas ao sol durante quatro horas e a equipe mediu tanto as lesões no DNA (chamadas de dímeros de pirimidina), quanto a incidência de radiação UV, comparando os resultados com a espessura da camada de ozônio em cada dia, medida em Unidades Dobsons (UD) pela Nasa (agência espacial norte-americana) e pela base argentina vizinha. “A espessura varia ao longo do ano. Durante a pesquisa, variou de 360 a 270 UD (correspondente a 3,6 a 2,7 milímetros). Nossos dados comprovaram que, quanto menor a espessura da camada, mais lesões são induzidas no DNA”, afirmou o pesquisador à Assessoria de Comunicação do ICB-USP.

Os cientistas compararam os dados obtidos na primavera da Antártica com medições feitas no verão de São Paulo e de Havana, regiões com clima tropical. Normalmente, o esperado é que locais com sol mais incidente apresentem um nível muito mais alto de lesões. No entanto, os danos no DNA ocorridos na Antártica foram quase tão altos quanto nas cidades tropicais (cerca de uma lesão a cada mil pares de bases). A diferença na temperatura (2º C na Antártica e 30º C em São Paulo e Havana) também não interferiu na quantidade de lesões. “Para ser considerada ‘buraco’, a camada deve estar abaixo de 200 UD. Mas mesmo 270 UD já foram suficientes para aumentar as lesões – e esse valor nós também observamos no Brasil. Isso é gravíssimo para a pele e evidencia a importância de usar protetor solar.”

A medição foi feita com um dispositivo desenvolvido e patenteado pela equipe de Menck: um dosímetro de lesões no DNA que permite fazer o experimento no meio ambiente, em vez de no laboratório, como normalmente é feito em outros estudos da área. “Trata-se de um gel onde inserimos o plasmídeo [pequenos fragmentos de DNA bacteriano]. A substância permite a passagem de luz ultravioleta e preserva a estrutura molecular do DNA, diferentemente de quando ele é irradiado a seco, em uma lâmina”, explicou o professor.

A equipe pretende retornar à Antártica em outubro de 2021 para fazer novas medições. Nesse mês, a espessura da camada de ozônio costuma chegar a 100 UD (quando de fato ocorre o buraco) e deve resultar em uma quantidade muito elevada de danos no DNA. Além disso, os pesquisadores devem analisar as lesões em organismos vivos, como algas e musgos.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Agência FAPESP e Assessoria de Comunicação do ICB-USP. Imagem: maior buraco já registrado na camada de ozono da Antártida, em setembro de 2006. Fonte: NASA-NOAA/Wikimedia Commons.

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