Notícia
Estudo internacional avalia pela primeira vez o uso de cloro para mitigar mudanças climáticas
O metano atmosférico (CH4) é um potente gás de efeito estufa e fotoquimicamente ativo, com fontes antropogênicas e naturais aproximadamente iguais
NASA
Fonte
Universidade de Vigo
Data
sexta-feira, 4 agosto 2023 14:05
Áreas
Ciência Ambiental. Clima. Geociências. Mudanças Climáticas. ODS. Química. Sociedade. Sustentabilidade.
Uma equipe internacional formada por especialistas de 13 centros de pesquisa de sete países publicou recentemente na revista científica Nature Communications um estudo que representa “o primeiro cálculo do que seria necessário e quais seriam as consequências de tentar mitigar as mudanças climáticas removendo o metano do atmosfera usando cloro”, como destacou o Dr. Juan Antonio Añel, físico da Universidade de Vigo, na Espanha, que participou do trabalho.
O artigo científico é assinado por pesquisadores da Espanha, China, Estados Unidos, Argentina, Holanda, Áustria e Dinamarca. O estudo surgiu no âmbito do trabalho sobre o papel do cloro na atmosfera desenvolvido no Instituto de Química e Física do CSIC e do projeto Odeon sobre impactos das técnicas de intervenção climática liderado pelos professores Juan Antonio Añel e Dra. Laura de la Torre, membros do grupo EPhysLab da Universidade de Vigo. Quanto à metodologia, o estudo baseou-se em cálculos teóricos e simulações climáticas utilizando o Community Earth System Model (CESM versão 1.1).
Cenários diferentes
De acordo com o artigo, o metano atmosférico (CH4) é um potente gás de efeito estufa e fotoquimicamente ativo, com fontes antropogênicas e naturais aproximadamente iguais. “A adição de cloro à atmosfera foi proposta para mitigar o aquecimento global por meio da redução do metano, aumentando sua perda química. No entanto, os potenciais impactos ambientais dessa mitigação climática permanecem inexplorados”, afirmaram os autores. Diante desse cenário, os pesquisadores realizaram estudos de sensibilidade para avaliar os possíveis efeitos do aumento das emissões de cloro reativo sobre o balanço de metano, a composição atmosférica e a temperatura da Terra.
Como resultado da análise realizada, o artigo apontou que, devido a reações químicas e balanços, para conseguir uma redução da carga de metano na atmosfera (em vez de um aumento), a carga de átomos de cloro deve ser de pelo menos três vezes a carga existente na atualidade: “Se a meta de remoção de metano for definida em 20%, 45% ou 70% menos metano global até 2050, em comparação com os níveis esperados em um dos cenários de mudança climática mais desfavoráveis, os resultados do nosso modelo sugerem que são necessários fluxos adicionais de cloro de 630, 1.250 e 1.880 Tg Cl/ano, respectivamente”, observaram os autores.
Entre os resultados, o Dr. Juan Antonio Añel destacou que eles mostram que seria necessário triplicar a atual concentração de cloro atmosférico (colocar 90 Tg Cl/ano na atmosfera) para começar a reverter o impacto do metano atmosférico. “Na verdade, abaixo deste limiar, o CH4 aumenta devido às reações químicas envolvidas”, apontou o pesquisador. Para reduzir pela metade o tempo que o metano permanece na atmosfera, acrescentou, seria necessário lançar na atmosfera 1.250 Tg Cl/ano. “Isso significaria que em 2050 a temperatura do planeta seria 0,4 ⁰C mais baixa em comparação com os cenários mais perigosos de mudança climática”, disse. Como explicou o físico da Universidade de Vigo, a técnica analisada também permitiria reduzir o efeito do aquecimento global exercido por outros dois gases: o ozônio e o vapor d’água, a um valor equivalente à redução do metano. “Dependendo da gravidade do cenário de mudanças climáticas para o qual nos movemos, a técnica pode nos fazer atrasar em cinco anos a ultrapassagem, ou mesmo não [ultrapassar], o limite de aquecimento global de 1,5 ⁰C”.
Mudanças significativas em outros fatores climáticos importantes
Os resultados, disseram os pesquisadores, “mostram que o aumento das emissões de cloro também induz mudanças significativas em outros importantes fatores climáticos”. Notavelmente, eles apontaram que “a diminuição do ozônio troposférico é grande o suficiente para que a magnitude da diminuição do forçamento radiativo seja semelhante à do metano”. Adicionando 630, 1.250 e 1.880 Tg Cl/ano ao cenário mais desfavorável, escolhido para ter as tendências atuais de metano mais consistentes, os pesquisadores indicaram que “diminuirá a temperatura da superfície em 0,2, 0,4 e 0,6 °C para 2050, respectivamente”.
No entanto, a equipe de pesquisa enfatizou que “a quantidade e o método em que o cloro é adicionado, suas interações com as vias climáticas e os possíveis impactos ambientais na qualidade do ar e na acidez do oceano devem ser cuidadosamente considerados antes de qualquer ação ser tomada”. Nesse sentido, o Dr. Juan Antonio Añel apontou que existem ‘efeitos perniciosos que não recomendam’ o uso dessa técnica de uso do cloro: “por exemplo, poderíamos perder um terço da camada de ozônio na Antártida, onde o maior buraco é encontrado. Além disso, ocorreria uma acidificação dos oceanos, o que afetaria a vida marinha”, concluiu o pesquisador.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade de Vigo (em espanhol).
Fonte: Universidade de Vigo. Imagem: NASA.
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