Notícia

Estudo internacional alerta para o impacto das alterações climáticas na decomposição de detritos vegetais em riachos

Através de meta-análise, pesquisadores avaliaram quais os fatores que controlam o papel dos invertebrados no processo de decomposição de detritos vegetais em riachos

Ryan Lara via Unsplash

Fonte

Universidade de Coimbra

Data

quinta-feira, 4 agosto 2022 06:10

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Ecologia.

O eventual desaparecimento de pequenos animais que vivem em areias, pedras e plantas aquáticas de riachos, como resultado de alterações ambientais induzidas pelas atividades humanas ou alterações climáticas, terá um grande impacto na decomposição de detritos vegetais, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono.

O alerta é de um estudo internacional, no qual participou a Dra. Verónica Ferreira, pesquisadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em Portugal, que avaliou os efeitos dos invertebrados na decomposição de detritos vegetais em riachos em nível global.

No estudo, publicado na revista científica Biological Reviews, uma equipe de 13 pesquisadores de 7 países, liderada pelo Dr. Kay Yue e pelo Dr. Fuzhong Wu, da Universidade Fujian Normal, na China, efetuou uma meta-análise para avaliar quais os fatores que controlam o papel dos invertebrados no processo de decomposição de detritos vegetais em riachos. A técnica de meta-análise permite a “integração de evidência científica publicada para abordar questões a larga escala e até mesmo novas questões que ainda não tenham sido abordadas empiricamente”, explicou a Dra. Verónica Ferreira. Foram considerados 141 estudos que cumpriam critérios específicos, que contribuíram com 2707 observações em riachos não poluídos distribuídos principalmente pela América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia Oriental e Oceania.

Sobre a importância de estudar estes processos, a pesquisadora da FCTUC realçou que os riachos, que constituem a maioria das linhas de água numa bacia hidrográfica, “recebem grande quantidade de detritos vegetais produzidos pela vegetação circundante e são estes detritos que vão sustentar em grande parte as cadeias alimentares nestes ecossistemas e também a jusante, incluindo grandes rios e zonas costeiras”.

A decomposição de detritos vegetais, continuou a pesquisadora, é assim um “processo fundamental em riachos porque sustenta as cadeias alimentares aquáticas e é parte integrante dos ciclos de nutrientes e de carbono a nível global. É especialmente importante compreender quem são os organismos intervenientes neste processo e como é que estes organismos reagem a alterações ambientais, porque alterações na decomposição de detritos vegetais têm implicações nas cadeias alimentares e nos ciclos de nutrientes e de carbono”.

No estudo, foi verificado que, em nível global, a presença de invertebrados estimula a decomposição de detritos vegetais em média em 74%, sendo o efeito mais forte quanto maior a densidade, biomassa e diversidade de invertebrados. Este resultado sugere que o eventual desaparecimento dos invertebrados dos riachos, em resultado de alterações ambientais induzidas pelas atividades humanas ou alterações climáticas, terá um grande impacto na decomposição destes detritos, com efeitos nos ciclos dos nutrientes e do carbono.

Mas a maior surpresa para os pesquisadores foi o fato de verificarem que o papel dos invertebrados na decomposição de detritos vegetais é maior na fase inicial do que nas fases intermédias ou avançadas do processo de decomposição, ao contrário do que se pensava até agora. “Isto é surpreendente porque tem sido demonstrado que os invertebrados trituradores preferem consumir folhada que já foi colonizada pelos decompositores microbianos que enriquecem a folhada em nutrientes e a tornam mais palatável. No entanto, o maior papel dos invertebrados durante a fase inicial do processo sugere que os invertebrados podem estar menos dependentes da pré-colonização microbiana da folhada do que se pensava”, destacou a Dra. Verónica Ferreira.

O estudo mostrou ainda que, em escala global, “caraterísticas ambientais, como acidez da água, concentração de oxigênio e temperatura, e caraterísticas da folha são igualmente importantes para regular o papel dos invertebrados na decomposição”.

Face aos resultados obtidos, os pesquisadores destacaram a importância de se considerar os invertebrados em modelos globais de decomposição de detritos vegetais em riachos, para melhor descrever e antecipar os fluxos de carbono em nível global.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Coimbra.

Fonte: Cristina Pinto, FCTUC/Universidade de Coimbra. Imagem: Ryan Lara via Unsplash.

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