Notícia

Estudo comprova que nações ricas dependem da biodiversidade de países em desenvolvimento

Estudo avaliou contribuição de polinizadores para os fluxos de produtos agrícolas no mercado internacional

Divulgação, UnB

Fonte

UnB | Universidade de Brasília

Data

quarta-feira, 1 setembro 2021 07:15

Áreas

Biodiversidade. Economia.

A relação histórica de exportação e importação de produtos agrícolas entre países em desenvolvimento e desenvolvidos é bastante conhecida: os primeiros exportam commodities para os segundos e estes vendem de volta produtos industrializados. O que não se sabia, e agora se sabe cientificamente, é que esse mesmo fluxo ocorre quando o foco é a contribuição dos polinizadores para o comércio de produtos agrícolas no mercado internacional.

O tema foi objeto de estudo de Felipe Deodato, egresso do doutorado em Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), cuja tese versou sobre os Desafios para o uso sustentável da polinização na agricultura. Ali, ele tratou do benefício econômico do uso do serviço ecossistêmico da polinização, bem como dos custos associados ao seu manejo e das estratégias de proteção aos polinizadores em diferentes escalas.

Agora, a pesquisa, considerada Melhor Tese na área Multidisciplinar do Prêmio UnB de Dissertação e Tese 2018 e 2019, se desdobrou em um artigo científico escrito pelo Dr. Deodato; por seu orientador, Dr. Frédéric Mertens, professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB (CDS); e por sua coorientadora, Dra. Luísa Carvalheiro, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG). O trio tem formação nas áreas de Economia, Ecologia e Ciências Ambientais, e Ciências Sociais, respectivamente.

Publicado recentemente na revista Science Advances, o trabalho avaliou a contribuição dos polinizadores para os fluxos de produtos agrícolas no mercado internacional e mostrou a importância da conservação da biodiversidade para os padrões de consumo globais.

“Sou economista e queria trazer uma abordagem socioeconômica para essa temática da polinização. Estudei desde o nível local, na propriedade agrícola, até níveis mais elevados, como as escalas nacional e global. Na época, já existiam estudos nestas escalas, mas buscavam avaliar quanto a polinização contribuía para a produção agrícola. Mas quando se negligencia de alguma maneira o comércio, se está negligenciando a distribuição do beneficio da polinização em nível global”, analisou o Dr. Felipe Deodato.

“Foi buscando preencher essa lacuna que olhamos para o comércio. Demos um passo à frente nessa temática em nível global quando começamos a mensurar quanto a polinização contribui não só para a produção, mas também para as exportações entre os países”, afirmou o pesquisador, que hoje é professor no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

Segundo o estudo, mais de 50% da diversidade de produtos agrícolas comercializados internacionalmente dependem da polinização. Para quantificar a relevância da polinização biótica para o consumo mundial de produtos agrícolas, o artigo apresenta o conceito de fluxo virtual de polinização, que indica, em toneladas, a proporção da exportação agrícola de um país com ação direta dos polinizadores.

Por exemplo, se um país A exportou cem toneladas de produtos agrícolas para o país B, e a polinização contribuiu para 20% da produção agrícola exportada pelo país A, o fluxo virtual de polinização entre os dois é de 20 toneladas.

“Por meio da análise dos fluxos virtuais globais de polinização, a pesquisa mostrou que o consumo de produtos agrícolas pelos países mais desenvolvidos é extremamente dependente dos serviços de polinização agrícola dos países em desenvolvimento. Por exemplo, no caso do Brasil, os serviços de polinização contribuem para produtos agrícolas em grande parte exportados para Europa e Estados Unidos, principalmente devido à exportação de café, soja, laranja, maçã, melancia, manga, abacate, entre outros”, declarou o Dr. Felipe Deodato.

Seu orientador no doutorado e coautor do artigo, professor Frédéric Mertens, explicou que o fato de a produção agrícola mundial estar cada vez mais dependente dos polinizadores significa que globalmente a produção dos cultivos beneficiados pelos serviços de polinização aumenta mais rapidamente que a daqueles que não dependem disso. Esta tendência, segundo o professor da UnB, responde a uma demanda internacional crescente pelos produtos agrícolas que dependem da polinização e à subida dos seus preços no mercado internacional.

Os fluxos virtuais de polinização entre os países podem ser visualizados por meio de ferramenta disponível on-line. O estudo dos pesquisadores contou com a participação de Karlo Guidoni-Martins (UFG); do Dr. J. Aguirre-Gutiérrez, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e do Dr. Marc Lucotte, da Universidade de Quebec em Montreal, no Canadá, e com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Acesse a tese Desafios para o uso sustentável da polinização na agricultura.

Acesse a ferramenta para a visualização dos fluxos virtuais de polinização (em inglês).

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da UnB Ciência.

Fonte: Marcela D’Alessandro, UnB Ciência. Imagem: Dra. Luísa Carvalheiro e Dr. Felipe Deodato usam tela para isolar pés de feijão no Distrito Federal e comparar produtividade com e sem a ação de polinizadores. Fonte: Divulgação, UnB.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2025 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account