Notícia
Enfrentamento das mudanças climáticas dependerá de ciência e políticas públicas
Pixabay
Fonte
Elton Alisson | Agência FAPESP
Data
quarta-feira, 13 dezembro 2017 15:00
Áreas
Mudanças Climáticas, Agricultura
O Brasil enfrenta hoje os desafios de aumentar sua produção agrícola e, ao mesmo tempo, preservar sua biodiversidade e diminuir as emissões de gases de efeito estufa tanto no setor agropecuário quanto no industrial e no de transportes, a fim de diminuir os impactos das mudanças climáticas globais. Para tanto, será preciso investir em medidas de adaptação, mitigação e inovação, além de políticas públicas adequadas.
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes de evento sobre os impactos das mudanças climáticas globais realizado no dia 11 de dezembro pela FAPESP e o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), o terceiro do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação.
“A FAPESP investe bastante em pesquisa e inovação nessas áreas [agrícola, biodiversidade e mudanças climáticas], mas sem políticas públicas em escalas federal, estadual e municipal, não será possível ao Brasil fazer grandes avanços no enfrentamento das mudanças climáticas globais”, disse o Dr. Gilberto Câmara Neto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
O pesquisador ressaltou que o Brasil é reconhecido hoje como uma das lideranças científicas mundiais em áreas como agricultura tropical, monitoramento ambiental e bioenergia. A capacidade científica e tecnológica do país na área de bioenergia, contudo, tem sido subutilizada para que o setor de transporte, por exemplo, possa diminuir suas emissões de dióxido de carbono (CO2), avaliou.
Os estímulos à produção de etanol, que em 2009 chegou a representar 18% da energia renovável produzida no país, vêm caindo nos últimos anos em razão da aposta do Brasil na exploração do petróleo da camada do pré-sal.
Com a aposta no pré-sal, os estímulos à produção de combustíveis renováveis no Brasil – que são essencialmente ligados aos biocombustíveis e, mais especificamente, ao etanol da cana-de-açúcar – foram abandonados.
A consequência disso foi que os biocombustíveis brasileiros estão, cada vez mais, deixando de ser vistos, em nível mundial, como alternativas para redução de emissões de gases de efeito estufa pelo setor de transporte e países como a China, por exemplo, tem decidido optar pelo carro elétrico, avaliou o pesquisador.
“A política brasileira de abandonar os biocombustíveis em favor do pré-sal tem um imenso potencial negativo não só para o Estado de São Paulo, que investiu na produção de etanol, mas também para o país em longo prazo”, disse Câmara.
“No Acordo de Paris, o Brasil não prometeu que irá usar sua única vantagem competitiva no setor energético por conta da miragem do pré-sal. Isso compromete o investimento do país em energia e pode fazer com que se chegue ao pior dos mundos, que é ver seu investimento em bioenergia tornar-se irrelevante no mundo do carro elétrico”, afirmou.
As metas de redução das emissões de gases de efeito estufa apresentadas pelo Brasil para o acordo climático de Paris, firmado em dezembro de 2015, por exemplo, foram bastante conservadoras em relação ao aumento da participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, apontou Câmara.
A fim de reduzir em 37% suas emissões até 2025, tendo como ponto de partida as emissões em 2005, o país se comprometeu, entre outras ações, a aumentar a participação dos biocombustíveis para 18% em sua matriz energética e para 45% a das energias renováveis – números que o país já havia atingido no passado.
O Brasil estabeleceu metas bem definidas para reduzir as emissões do setor agropecuário por meio, por exemplo, do combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e da restauração de 12 milhões de hectares de florestas. Mas, para o setor de transporte, as metas são bastante vagas, como a de “promover medidas de eficiência e melhoria de infraestrutura no transporte público e áreas urbanas”, apontou Câmara.
“O Brasil quis fazer mais do mesmo no Acordo do Paris: combater o desmatamento e estimular o aumento da produtividade na agricultura. Mas naquilo que realmente ‘pega’ para a grande maioria dos brasileiros, que são as áreas urbanas, não prometeu nada”, avaliou o pesquisador.
De acordo com Câmara, em 2030 aproximadamente 80% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil terão origem nos setores de energia, indústria e resíduos, e as emissões pelo desmatamento da Amazônia e pelo setor agropecuário – que eram os grandes vilões nos anos 2000 – passarão a ser marginais.
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