Notícia

DNA de aranhas ‘conta’ a história evolutiva da Floresta Amazônia e da Mata Atlântica

Pesquisa desenvolvida no IB-Unicamp busca entender as mudanças sofridas pelos biomas ao longo dos últimos cinco milhões de anos

Antoninho Perri, Divulgação.

Fonte

Jornal da UNICAMP

Data

terça-feira, 8 maio 2018 16:00

Áreas

Ciência Ambiental, Pesquisa

Análises de DNA nuclear e mitocondrial de populações de Nephila clavipes, espécie comum de aranha que vive nas regiões mais quentes das Américas, estão ajudando os cientistas a compreender melhor a história evolutiva da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica ao longo dos últimos cinco milhões de anos. O trabalho, realizado pela primeira vez com invertebrados, foi desenvolvido para a tese de doutoramento do biólogo Dr. Luiz Filipe de Macedo Bartoleti, defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, sob a orientação da professora Dra. Vera Solferini.

De acordo com Luiz Filipe, o estudo está inserido numa área do conhecimento denominada Biogeografia Histórica, que se ocupa de investigar os padrões de distribuição geográfica dos seres vivos num dado intervalo de tempo. Ao analisarem o DNA de diferentes populações de uma mesma espécie, os pesquisadores buscam evidências de possíveis alterações ocorridas nos biomas com o decorrer do tempo. Tais indicativos advêm do fato de o DNA ser uma molécula que sofre várias mudanças. “As mutações podem ser de ordem adaptativa, mas também podem ser neutras; neste último caso, são cumulativas”, informa o autor da tese.

Mas, afinal, o que o DNA de uma simples aranha pode “contar” sobre a evolução da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica? A professora Vera Solferini explica que o seu orientado colheu amostras de 40 populações de Nephila clavipes em diversas regiões da Colômbia e Brasil. Somente no território nacional, Luiz Filipe visitou 20 Estados. “Esse desenho amostral amplo permite que tenhamos uma ideia muito boa de como foi a história evolutiva desses biomas”, afirma a docente.

Na prática, o que os pesquisadores fazem é analisar como as distintas populações dessa espécie de aracnídeo estão relacionadas. Dependendo da variabilidade genética encontrada, eles têm condições de dizer se as populações encontradas em diferentes pontos mantêm contato ou se se dividiram há muito tempo. “Imagine duas populações de Nephila clavipes, uma da Amazônia e outra da Mata Atlântica. Se elas pararem, por algum motivo, de manter contato entre elas, cada uma vai acumular mutações próprias. Ou seja, vão se distanciando geneticamente uma da outra ao longo do tempo. Ao passo que se mantiverem contato, vão trocar essas mutações”, pormenoriza Luiz Filipe.

É justamente essa variabilidade genética que guarda sinais dos eventos demográficos ocorridos no passado. Na análise que fez do DNA das aranhas que coletou, o autor da tese de doutorado constatou que as populações a oeste e a leste dos Andes Colombianos acumulavam mutações diferentes, o que indica que algum evento impediu o fluxo gênico entre elas. “Nesse caso, a barreira ao contato foi o soerguimento final da Cordilheira dos Andes, ocorrido há cerca de três milhões de anos. Essa hipótese reforça o resultado de estudos de outras áreas acerca da história evolutiva daquele bioma”, pontua o biólogo.

Já as populações coletadas no Brasil apresentaram diversificação genética mais recente, que remontam aos últimos 350 mil anos. A separação das linhagens brasileiras, segundo a professora Vera Solferini, provavelmente está associada às mudanças climáticas características do período Pleistoceno, que deve ter isolado populações em diferentes biomas, causando o surgimento das linhagens encontradas. Esses mesmos eventos climáticos, pondera a docente, devem ter sido responsáveis por modificar de forma recorrente a distribuição geográfica dos biomas, o que pode ter criado “pontes” entre a Amazônia e a Mata Atlântica, através das quais as aranhas puderam se misturar durante os últimos ciclos glaciais.

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Fonte: Manuel Alves Filho. Imagem: Antoninho Perri, Divulgação.

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