Notícia

Desmatamento modifica dinâmica de transmissão e impulsiona malária na Amazônia

Dois artigos recentes mostraram que a intervenção humana na floresta favorece a dominância do mosquito “Anopheles darlingi” e apontaram em quais momentos há picos de infecção pela doença

Lawrence Berkeley National Laboratory via Wikimedia Commons

Fonte

Jornal da USP

Data

sábado, 8 janeiro 2022 12:20

Áreas

Biologia. Desmatamento. Ecologia. Saúde.

Dois estudos liderados pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) ajudam a entender como as ações antrópicas interferem no comportamento e na distribuição de mosquitos transmissores de malária na região amazônica.

O primeiro estudo diz respeito ao doutorado do biólogo Leonardo Suveges Moreira Chaves. Em um dos resultados, o Dr. Leonardo Chaves mostrou que as mudanças causadas pelo homem na vegetação da Floresta Amazônica diminuíram a biodiversidade de mosquitos e levaram o anopheles (Nyssorhynchus) darlingi a se tornar o principal vetor da malária na Amazônia, aumentando o risco de transmissão da doença.

Outro achado importante foi que ambientes florestais fragmentados, habitados por pessoas vulneráveis em casas precárias, são as fontes dessa espécie, enquanto habitats de florestas contínuas ou completamente desmatados, sumidouro.

“Fomos a assentamentos rurais em que havia ocorrência de malária e vimos essa relação: conforme o homem muda a paisagem, a comunidade de mosquitos também sofre alterações, favorecendo a dominância do Ny. darlingi”, explicou o Dr. Leonardo Chaves. O trabalho deu origem a um artigo publicado em 2021 na revista científica Plos One.

O segundo estudo faz parte do também biólogo Dr. Gabriel Laporta, pesquisador do Centro Universitário FMABC. Para o trabalho, que foi publicado também no início de 2021 na revista  Scientific Reports, o Dr. Gabriel Laporta analisou dados de mosquitos anophelinos capturados anteriormente e os utilizou para investigar o quanto o desmatamento impulsiona a ocorrência de malária em paisagens rurais.

O maior risco da doença ocorre em locais onde o desmatamento acumulado atingiu cerca 50% da cobertura vegetal fragmentada. O primeiro pico ocorre após dez anos do início do assentamento, e o segundo, 35 anos depois.

“Decidimos partir de uma teoria já descrita anteriormente – a malária de fronteira – e colhemos dados in loco das comunidades”, ressaltou o Dr. Gabriel Laporta. Esse é um conceito que diz que a ocorrência de malária é consequência não só da presença do vetor, mas também das condições socioeconômicas de uma comunidade.”

As duas pesquisas fazem parte de um projeto maior, coordenado pela Dra. Maria Anice Sallum, bióloga e professora do Departamento de Epidemiologia da FSP-USP. Uma equipe de cientistas viajou, entre janeiro de 2015 e novembro de 2017, para 12 municípios da Amazônia brasileira, e conseguiram capturar mais de 25 mil espécimes de mosquitos, de 173 espécies em 17 gêneros diferentes.

Com esse grande número de insetos em mãos, foi possível montar um banco de dados, atualmente disponível para outros cientistas.

“A gente não consegue entender a doença, o que acontece, quais são os determinantes da malária se você não vai a campo. É importante, também, observar a situação do ambiente físico, biológico e social” , destacou a Dra. Maria Anice.

As principais causas do aumento do risco de malária em países endêmicos, incluindo o Brasil, são o desmatamento, mudanças nas comunidades de mosquitos, perdas de biodiversidade ligadas à agricultura, projetos de desenvolvimento de infraestruturas como usinas hidrelétricas, piscicultura, atividades de mineração, além da urbanização e invasão de terras indígenas para extração ilegal de madeira e mineração.

Acesse o artigo científico completo publicado na revista Plos One (em inglês).

Acesse o artigo científico completo publicado na revista Scientific Reports (em inglês).

Acesse a notícia completa publicada no Jornal da USP.

Fonte: Fabiana Mariz, Jornal da USP. Imagem: Glóbulo vermelho humano infectado com malária. Fonte: Lawrence Berkeley National Laboratory via Wikimedia Commons.

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