Notícia
Desmatamento em terras indígenas provocou a emissão de 96 milhões de toneladas de CO2
Cientistas analisaram dados de 232 TIs entre 2013 e 2021: resultados divulgados na revista Scientific Reports indicam que derrubada da floresta foi maior entre 2019 e 2021
Dr. Celso Henrique Leite Silva Junior, UFMA
Fonte
Agência FAPESP
Data
quinta-feira, 27 abril 2023 11:50
Áreas
Biodiversidade. Biologia. Ciência Ambiental. Conservação. Desmatamento. Ecologia. Engenharia Florestal. Geografia. Gestão Ambiental. Monitoramento Ambiental. Mudanças Climáticas. ODS. Políticas Públicas. Recursos Naturais. Saúde. Sensoriamento Remoto. Sociedade. Sustentabilidade.
O desmatamento em Terras Indígenas (TIs) na Amazônia brasileira provocou a emissão de 96 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre 2013 e 2021, modificando nessas áreas o papel de ‘sequestradoras de carbono’ da floresta. Desse total, 59% foram emitidos nos últimos três anos analisados (2019-2021), quando houve intensificação da devastação.
Os dados são resultado de uma pesquisa liderada por brasileiros e foram publicados na revista Scientific Reports. Os cientistas mostraram que o desmatamento nas TIs atingiu uma área de 1.708 quilômetros quadrados (km2), o que equivale a 2,38% de todo o desmate na Amazônia brasileira no período. Em 232 TIs analisadas, a taxa de devastação foi, em média, de 35 km2 ao ano, representando aumento de 129% entre 2013 e 2021. Considerando apenas os três últimos anos, o crescimento foi de 195%.
Além disso, o estudo apresentou outra informação preocupante: a derrubada da floresta está 30% mais distante das fronteiras em direção ao interior das terras indígenas, entrando até 8,87 km ao ano além da borda.
“Em números absolutos, a área devastada nas TIs pode parecer pouca, mas, como se trata de uma região destinada à proteção ambiental, a magnitude do impacto é muito maior. Além da perda de floresta, o desmatamento também serve de vetor de outros problemas para o interior dessas áreas, como o avanço de doenças e ameaças à sobrevivência de indígenas isolados. Um caso recente é o do povo Yanomami, onde houve diversas mortes de indígenas após a entrada de garimpeiros”, disse à Agência FAPESP o Dr. Celso Henrique Leite Silva Junior, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e primeiro autor do artigo.
Consideradas um modelo eficiente de preservação da floresta, as TIs têm sofrido crescentes pressões, como o aumento de garimpos ilegais. Com o avanço da devastação – induzida por recentes reveses ambientais, como o enfraquecimento da governança e a redução da proteção e dos direitos dos povos –, as terras indígenas podem reverter o papel vital de áreas protegidas no combate às mudanças climáticas e na manutenção da floresta em pé.
As florestas tropicais, como a Amazônia, são um dos ecossistemas mais importantes na mitigação das mudanças climáticas. Mas podem funcionar como via de mão dupla, absorvendo carbono enquanto crescem e se mantêm e liberando os gases quando degradadas ou desmatadas, por isso a importância da conservação e de políticas de combate ao desmatamento, entre outras ações.
“Precisamos lembrar que as TIs são fundamentais para que o Brasil consiga cumprir as metas ambientais que procuram diminuir os impactos das mudanças climáticas. Preservá-las é essencial. É necessário forçar o cumprimento das leis para que essas áreas mantenham o seu papel de ser uma espécie de escudo para a floresta em pé e os povos tradicionais que nelas vivem”, completou o Dr. Guilherme Mataveli, pesquisador da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que é bolsista de pós-doutorado da FAPESP e um dos autores do trabalho.
O estudo também recebeu financiamento por meio do Centro de Pesquisa e Inovação de Gases de Efeito Estufa (RCGI) – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e Shell na Universidade de São Paulo (USP) – e de um Projeto Temático vinculado ao Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.
Fonte: Luciana Constantino, Agência FAPESP. Imagem: Professor Dr. Celso Henrique Leite Silva Junior, UFMA.
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