Notícia

Cresce o interesse de jovens brasileiros em temas de conservação e biodiversidade

Artigo publicado na revista Science Advances mostra que estudantes estão cada vez mais sensíveis a temas ambientais e científicos, mas o interesse se dá de maneira desigual no país: é maior na região Norte e menor no Sudeste

Patrícia Ferrari/Wikimedia Commons

Fonte

Agência FAPESP

Data

quarta-feira, 23 setembro 2020 11:05

Áreas

Biodiversidade. Conservação. Educação Ambiental. Sociedade.

Temas como biodiversidade, conservação da Amazônia e ciências são de interesse crescente entre estudantes brasileiros que estão ingressando no ensino médio. A disposição para aprender sobre a fauna e a flora local ocorre, no entanto, de forma desigual: jovens da região Norte do país têm maior interesse do que aqueles situados no Sudeste.

É o que afirma artigo publicado na revista científica Science Advances, primeiro fruto de um Projeto Temático apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que analisou dados obtidos por cinco estudos de doutoramento e resultados da pesquisa internacional The Relevance of Science Education (Rose). Os autores defendem a necessidade de maior inclusão de estudos sobre plantas e animais regionais no currículo escolar nacional. O projeto integra o Programa BIOTA-FAPESP e envolve cinco instituições paulistas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e Instituto Butantan.

Aplicado em mais de 40 países desde 2004, o projeto Rose procurou identificar qual é o grau de interesse de jovens de 15 anos sobre temas relacionados à conservação, ciência, tecnologia e biodiversidade. “Os alunos brasileiros demostraram alto interesse em estudar mais profundamente plantas e animais nativos, muito mais do que ingleses, noruegueses e suecos, por exemplo. No Brasil, realizamos esse estudo três vezes entre 2007 e 2014, de modo que possibilita a identificação de tendências: uma delas é que, ao contrário do que pode propagar o senso comum, o interesse dos jovens por esses temas é crescente”, disse o Dr. Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP e do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Unifesp e também coordenador do estudo.

Os estudantes foram motivados a opinar livremente sobre ciência, tecnologia e interesses sobre biodiversidade. A pesquisa foi realizada em três diferentes momentos: em 2007 (apenas em algumas cidades), 2010 e 2014 (com representação nacional). Nesta última pesquisa, 788 alunos (43,7%) de escolas públicas e privadas do país demonstraram interesse em estudar a flora e a fauna local, enquanto 1.015 alunos (56,3%) se mostraram desinteressados.

Na comparação regional, entre os alunos que vivem na região Norte, onde está a floresta amazônica, 50,4% tinham interesse em ampliar os conhecimentos sobre a biodiversidade local, enquanto no Sudeste apenas 33,1%.

A região Nordeste também se destaca com o segundo maior número relativo de entrevistados motivados (46,9%) a conhecer a biodiversidade de sua região.

“Esse resultado é surpreendente, pois o esperado é que, quanto maior o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e o acesso a equipamentos como museus, por exemplo, maior seja o interesse em educação. No entanto, foi justamente o contrário que a pesquisa mostrou. Os motivos dessa desigualdade de interesses precisam ser investigados mais a fundo, entender o alto interesse de uns e encontrar formas de estimular a atenção de outros. É na região Norte e Nordeste que estão os menores IDHs do país. Com isso, sugerimos que a cultura indígena seja, de certa maneira, um componente importante para essa atitude positiva dos jovens da região Norte em relação ao interesse pelo estudo de conservação e biodiversidade da floresta”, explicou o Dr. Nélio Bizzo.

Os pesquisadores ressaltam no artigo que a biodiversidade da floresta amazônica e o conhecimento ancestral dos povos indígenas quase inexistem no currículo escolar nacional, que é unificado para todo o país. Um exemplo claro está nos livros didáticos. Neles, a tendência é valorizar a abordagem da fauna exótica – como ursos polares, elefantes, girafas e leões – em detrimento da diversidade local formada pelo boto-vermelho, quati, preguiça, guará, carapanã (mosquito) e a jaguatirica.

“Fica evidente a necessidade de que os estudantes brasileiros conheçam a Amazônia. Porém, o que aprendemos na escola e nos livros didáticos se refere a uma floresta impenetrável, apenas recentemente ocupada por indígenas. E não é bem assim, sabe-se que a floresta amazônica estava muito longe de ser um vazio populacional quando aqui chegaram os portugueses”, afirmou o Dr. Nélio Bizzo à Agência FAPESP.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Maria Fernanda Ziegler, Agência FAPESP. Imagem: Patrícia Ferrari/Wikimedia Commons.

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