Notícia

Contaminação por mercúrio de andorinhas azuis acende alerta para a saúde humana na Amazônia

Aves contaminadas podem ter problemas hepáticos, renais e neurológicos; população ribeirinha também está exposta

Dado Galdieri, Instituto Butantan

Fonte

Instituto Butantan

Data

quarta-feira, 2 agosto 2023 11:40

Áreas

Biologia. Ciência Ambiental. Desigualdade Socioambiental. Ecologia. Geociências. Geografia. Gestão de Resíduos. Materiais. Monitoramento Ambiental. Saúde. Toxicologia. Zoologia.

Nas últimas décadas, a América do Norte tem registrado um declínio significativo em suas populações de aves – entre elas as andorinhas azuis, que sofreram uma redução de 25% nos últimos 60 anos. E uma das respostas para esse problema está no Brasil, de acordo com um estudo do Instituto Butantan feito em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade do Norte do Arizona, nos Estados Unidos. Publicado na revista científica Environmental Pollution, o trabalho mostra que essas aves, que migram para a Amazônia no verão, voltam para o norte contaminadas por mercúrio – o que também pode ter graves implicações para a saúde de populações ribeirinhas.

O metal foi encontrado nas penas de uma das três subespécies da ave (Progne subis subis), em amostras coletadas após o seu retorno para os EUA, quando se preparavam para construir seus ninhos. A coleta ocorreu em 2019 nos estados de Wisconsin, Virgínia e Flórida. As andorinhas contaminadas apresentaram perda de massa corporal e reserva de gordura reduzida, fatores que comprometem a sua capacidade de migração e reduzem a probabilidade de voltarem para a América do Norte e se reproduzirem. Além disso, a exposição ao mercúrio pode causar disfunção hepática e renal, anemia, redução do crescimento e problemas reprodutivos e neurológicos.

A Amazônia é naturalmente rica em mercúrio, devido a aspectos característicos de sua origem geológica. De acordo com a Dra. Erika Hingst-Zaher, pesquisadora do Museu Biológico do Butantan, uma das responsáveis pelo estudo, o garimpo ilegal de ouro é uma das principais causas da contaminação dos rios, seguida da construção dos reservatórios das usinas hidrelétricas, açudes e outros locais onde o fluxo da água é reduzido.

“A contaminação das andorinhas azuis reforça a importância do conceito de saúde única, da interligação entre os seres vivos em uma teia que forma os ecossistemas. As andorinhas se contaminam porque se alimentam dos insetos que eclodem a partir de larvas aquáticas, os peixes também se alimentam dessas larvas e insetos, e a população ribeirinha se alimenta de peixes contaminados, acumulando o mercúrio em seu organismo”, apontou a Dra. Erika.

Além de serem importantes para o controle das populações de insetos, as andorinhas servem como bioindicadores da saúde dos ecossistemas. Segundo a Dra. Erika, a situação é um alerta para a saúde humana, inclusive no que diz respeito a novas epidemias e pandemias.

Povos indígenas já estão contaminados

O mercúrio também representa uma grave ameaça à saúde dos seres humanos. A contaminação das populações indígenas pelo metal é um fato comprovado na literatura científica. O povo Munduruku, que habita a região do Rio Tapajós, no Pará, é um dos mais afetados – 58% das pessoas dessa nação apresentam níveis de mercúrio na circulação sanguínea acima do limite seguro, de acordo com estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A história dos Munduruku é contada no filme ‘Amazônia, a nova Minamata?’, lançado em maio no Brasil, que associa a propagação do mercúrio na região amazônica ao desastre ambiental ocorrido em 1954 na cidade japonesa de Minamata. Uma indústria local despejava resíduos de mercúrio na baía desde 1930 e, anos depois, sintomas de contaminação começaram a ser vistos na população. O evento motivou a Organização das Nações Unidas (ONU) a criar a Convenção de Minamata sobre Mercúrio, em 2013, para combater os efeitos deletérios do metal.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Instituto Butantan.

Fonte: Aline Tavares, Instituto Butantan. Imagem: andorinha azul. Fonte: Dado Galdieri, Instituto Butantan.

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