Notícia

Composto sintético e a contaminação dos solos, águas e alimentos

Divulgação

Fonte

Nicole Trevisol | UFSC

Data

quarta-feira, 31 janeiro 2018 14:00

Áreas

Agricultura, Gestão Ambiental, Saúde

Ele pode estar nos solos, nas águas, no ar e nos alimentos. Aplicado “inofensivamente” para combater o ataque de formigas de corte em cultivos de Pinus e Eucaliptos, na sua grande maioria, o formicida sulfluramida é um composto sintético, estável na natureza e que pode ser armazenado gradativamente pelo corpo humano através da ingestão de alimentos ou água que tiveram contato com esse poluente orgânico persistente (POP).

Segundo a Convenção de Estocolmo, da qual o Brasil é signatário, os POPs “são substâncias químicas que têm sido utilizadas como agrotóxicos e possuem características de alta persistência, ou seja, não são facilmente degradadas”. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) esclarece em seu site que esse material pode ser transportado pelo ar, água e solo por longas distâncias e, com isso, “se acumularem em tecidos gordurosos dos organismos vivos, sendo toxicologicamente preocupantes para a saúde humana e o meio ambiente”. Uma vez no ambiente o formicida sulfluramida degrada para o POPs, chamado ácido perfluoroctanosulfônico (PFOS), caracterizado pela Convenção de Estocolmo como um químico de uso industrial.

A pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Juliana Leonel, iniciou a exploração do comportamento deste formicida na costa baiana em 2014 enquanto professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Agora, membro do corpo docente do curso de Oceanografia da UFSC, vinculado ao Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), a docente inicia as pesquisas sobre o poluente em outras regiões da costa brasileira, por meio de projeto aprovado pelo CNPq (Universal/2016): Origem, Distribuição e Transporte de PFOS para o Atlântico Sul.

O estudo visa ampliar a área de coleta de amostras para verificar as diferentes fontes de PFOS, sejam elas vindas de atividades agrícolas ou industriais, e compreender o caminho que esse composto percorre até chegar ao Atlântico Sul.

De acordo com Leonel, o formicida sulfluramida era comprado para uso em jardins e, em si, não é um problema para o ser humano. “Uma vez aplicado e colocado no meio ambiente, ele se transforma muito rapidamente em outros compostos e o problema são esses outros compostos”.

O principal é o PFOS, um composto muito estável que não vai se transformar em outros produtos e sair da natureza facilmente. Estima-se que a permanência dele no solo e na água seja de várias décadas. “Nossa preocupação ao encontrar o PFOS se dá porque, se ele chegar ao ambiente agora, daqui a 30-50 anos vamos continuar encontrando-o no ambiente. Onde vamos chegar?”, questiona.

Os estudos do Laboratório de Oceanografia Química da UFSC têm questionado a sulfluramida como fonte significante de PFOS na região costeira do Brasil. Trabalhos em colaboração com outras instituições de pesquisa internacionais têm contribuído para que a análise de amostras ambientais possa ser feita. “A transformação do formicida em PFOS é rápida: após 14 dias da aplicação de 1 quilo, a metade disso já vai ter se transformado em outros compostos, entre eles o PFOS”.

A poluição não respeita fronteiras, é um problema de todos.

Com essa frase, Juliana resume que o controle e a redução de uso dos agrotóxicos, neste caso a sulfluramida, deve ser uma preocupação de todos. Esse poluente, por ser persistente, pode provocar uma série de problemas para o homem e outros organismos associados a ele.

“A sulfluramida não tem toxidade alta, mas sim o que ela se transforma. Precisamos de mais estudos para descobrir as suas consequências, mas podemos afirmar que o PFOS pode ficar alojado em diferentes locais do corpo (gordura, fígado) e, com isso, ocasionar cânceres, tumores, afetar o crescimento e o sistema imunológico, causar perda de peso”.

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