Notícia
Cientistas debatem papel da ecologia em tempos de crise
Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos alerta para a crise da biodiversidade
Antoninho Perri, Unicamp
Fonte
Jornal da Unicamp | Universidade de Campinas
Data
segunda-feira, 20 agosto 2018 11:40
Áreas
Biodiversidade, Conservação, Pesquisa, Políticas Públicas.
A IPBES (Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos) alerta para a crise da biodiversidade. Seminário internacional, que ocorre na Unicamp, discute a pluralidade de aspectos das crises ambientais. Retrocessos na legislação ambiental desconsideram evidências científicas. Tem-se, por outro lado, a crise do financiamento da ciência que caminha ao lado da crise econômica do país. Em meio a tantas incertezas, ecólogos se reúnem na Segunda Reunião da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (2ª Rabeco) e no Sexto Seminário de Ecologia Teórica (6º SET), que ocorrerão no Centro de Convenções da Unicamp, para avançar na seguinte reflexão: como ser relevante em tempos de crise?
“Num país de tamanha extensão e diversidade ambiental, avaliar as mudanças em curso e compreender suas consequências são tarefas monumentais. Muitos ecólogos enfocam especialmente a crise da biodiversidade, mas ela não pode ser separada das consequências que essa crise traz também para as condições e a qualidade de vida humana, agora e no futuro cada vez mais iminente”, explica o Dr. Thomas Lewinsohn, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e presidente da Rabeco.
Refletir sobre como integrar os conhecimentos produzidos pela ciência ecológica para auxiliar a estancar as crises que surgem por todos os lados não é uma tarefa fácil, tampouco cabe exclusivamente a cientistas.
“A pesquisa ecológica produzida no Brasil pode ser equiparada ao que hoje se faz nos países que lideram a ciência ecológica mundial”, afirma Lewinsohn. A oportunidade que se coloca é aproveitar estes expertises para dar um salto de nível no enfrentamento dos desafios e problemas ambientais no Brasil. “Trata-se de incorporar esse conhecimento no desenho e realização de melhores políticas públicas e práticas socioambientais”, diz o docente.
Este tema torna-se especialmente relevante e sensível quando se trata produzir subsídios técnicos para aprimoramento de políticas públicas. Como adverte o professor Dr. Carlos Alfredo Joly, do Instituto de Biologia da Unicamp e convidado a refletir sobre o tema no debate de abertura, enfrentamos um paradoxo: “embora tenhamos ciência ecológica de qualidade, vivemos um momento de retrocesso da legislação ambiental no país”.
“Não estamos conseguindo traduzir o nosso avanço do conhecimento em uma linguagem que possa ser utilizada por nossos tomadores de decisão ou porque lobbies de classe que têm impedido que esses avanços sejam de fato incorporados [à legislação]”, diz o Dr. Joly.
O desprezo pelo conhecimento científico na tomada de decisão também preocupa o Dr. Lewinsohn: “pior do que dinheiro curto são as ideias curtas, e essas nos atingem desde o topo dos três poderes. É assustador ver que, assim como o presidente Donald Trump, há ex-ministros brasileiros assumidamente negacionistas das mudanças climáticas, de evolução, ou da perda crítica de biodiversidade”.
Outra faceta da crise que aflige os ecólogos – e todos os cientistas do país – é a incerteza quanto ao financiamento futuro. Cortes de recursos financeiros afetam profundamente todas as áreas da ciência e tecnologia. No caso da ecologia isto se reflete na descontinuidade dos acompanhamentos de processos ecológicos. “A ecologia é especialmente sensível, porque sua pesquisa envolve organismos de vida longa e, em grande parte, é feita no campo. Você não pode desligar os processos ecológicos que está pesquisando, para religá-los quando houver dinheiro para continuar a pesquisa”, alerta o Dr. Lewinsohn.
De acordo com o Dr. Lewinsohn, cortes abruptos e arbitrários provocam a perda não só do dinheiro já investido, mas principalmente de tempo – anos, às vezes décadas, que definitivamente não podem ser repostos.
Acesse a notícia completa no site do Jornal da Unicamp.
Fonte: Paula Drummond de Castro, Jornal da Unicamp. Imagem: Antoninho Perri.
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