Notícia
Cientistas de 27 instituições defendem novo modelo para compartilhamento de dados de florestas
Em artigo publicado na revista ‘Nature Ecology and Evolution’, grupo alerta para a necessidade de reduzir desigualdades e melhorar condições de trabalho das pessoas que coletam informações em campo
Eduardo Cesar, Pesquisa FAPESP
Fonte
Agência FAPESP
Data
quinta-feira, 14 abril 2022 11:50
Áreas
Biodiversidade. Botânica. Conservação. Desmatamento. Ecologia. Engenharia Florestal. Geografia. Recursos Naturais.
Considerados fundamentais para o monitoramento e até para a construção de políticas de preservação da biodiversidade, os dados abertos de florestas requerem um ‘acordo radicalmente novo’ entre originadores, usuários e financiadores. Esse é um dos principais pontos colocados em discussão em artigo de opinião publicado na revista científica Nature Ecology and Evolution e assinado por 25 pesquisadores de 27 instituições e universidades de vários países, entre elas quatro brasileiras.
Liderado pelos cientistas Dr. Renato Augusto Ferreira de Lima, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), e pelo Dr. Oliver L. Phillips, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, o grupo concorda com a necessidade de os dados serem abertos, mas coloca a desigualdade de condições de trabalho entre geradores e usuários das informações como argumento para avaliar de que forma e quando abri-los, defendendo um processo mais ‘justo e equitativo’.
“O cientista tropical de campo conhece bem essa realidade. Com o debate que trazemos à tona queremos atingir instituições financiadoras, os usuários que querem acoplar dados florestais a informações de satélites e as casas editoriais, que às vezes exigem a abertura dos dados. É uma forma de alertar que as condições de trabalho para a geração dessas informações não são iguais para todos”, afirmou o professor Renato de Lima à Agência FAPESP.
As diferentes condições de trabalho, de infraestrutura, de capacitação e de financiamento das pesquisas estão na lista das causas para o que o grupo de cientistas chama de ‘abismo’ entre os profissionais e instituições que medem as florestas em campo e os que utilizam os dados coletados para fazer sínteses em escalas regionais e globais.
“No artigo mostramos que os geradores de dados biológicos nos trópicos – entre eles botânicos, ecólogos, engenheiros florestais, técnicos e comunidades locais – não dispõem de acesso aos mesmos treinamentos, infraestrutura e recursos. Isso acaba gerando um ônus para quem tem a responsabilidade de coletar os dados e que, muitas vezes, precisa de investimento continuado para conseguir monitorar a biodiversidade”, disse o Dr. Renato de Lima.
O acesso a dados sem restrições e com possibilidades de compartilhamento tem sido considerado fundamental para atender a uma crescente demanda por informações florestais, seja para pesquisa, monitoramento e formulação de políticas públicas.
Isso porque as florestas tropicais – onde se insere a Amazônia, por exemplo – são vistas como ponto central numa abordagem de sistemas integrados para enfrentar as crises globais relacionadas às mudanças climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pelas Nações Unidas na Agenda 2030.
Esses sistemas são responsáveis por serviços ambientais cruciais, como a absorção de gases de efeito estufa, o equilíbrio hídrico e a biodiversidade. No entanto, são constantemente ameaçados por desmatamento, queimadas e outros.
Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o professor Renato de Lima foi o primeiro autor de um estudo, publicado em 2020, mostrando que a ação humana já causou – direta ou indiretamente – perda de biodiversidade e de biomassa em mais de 80% dos fragmentos florestais remanescentes da Mata Atlântica.
Por outro lado, coletar e gerar dados de longo prazo sobre as florestas envolve medir fisicamente árvores de várias espécies in loco e identificá-las. Esse trabalho requer atualizações e monitoramentos constantes para registrar as mudanças ao longo dos anos, o que, em se tratando de florestas, pode representar décadas de financiamento e carreiras inteiras de pesquisadores.
Acesse a publicação científica completa (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.
Fonte: Luciana Constantino, Agência FAPESP. Imagem: Eduardo Cesar, Pesquisa FAPESP.
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