Notícia

Ciclones subtropicais, como o que afetou o regime de chuvas no sul da Bahia, serão ainda mais intensos ao longo do século

Estudo usou modelos globais desenvolvidos pelo IPCC para simular cenários para formação de ciclones no Atlântico Sul pelos próximos 60 anos

Polícia Militar do Estado da Bahia

Fonte

Jornal da Unesp

Data

quinta-feira, 16 dezembro 2021 06:10

Áreas

Cidades. Clima. Meteorologia. Mudanças Climáticas.

O ciclone subtropical Ubá, que se formou nas últimas semanas no Atlântico Sul, na altura do litoral do Rio de Janeiro, foi o responsável pelas fortes chuvas que atingiram com gravidade o sul da Bahia desde a noite do último dia 7 de dezembro, alagando diversas cidades. O estrago deixou 70 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas em 35 municípios da região, e levou pelo menos 30 prefeitos a decretarem estado de emergência. Ao menos 10 pessoas morreram.

Infelizmente, é possível que nas próximas décadas cenas assim sejam ainda mais fortes. Segundo os estudos de uma equipe de climatologistas de diversas instituições brasileiras, a elevação da temperatura da Terra e as mudanças climáticas farão com que, no futuro, eventos semelhantes se tornem ainda mais intensos. A boa notícia é que eles talvez sejam menos frequentes.

Embora esses ciclones ocorram, em sua grande maioria, sobre o oceano, seus efeitos nos ventos ou na maré, por exemplo, costumam alcançar a costa brasileira. Mais especificamente, a faixa litorânea que se estende entre os estados de Santa Catarina e o sul da Bahia. Esta é uma área de grande concentração populacional e que abriga importantes atividades econômicas. O porto de Santos, o maior da América Latina, e as bacias de Campos e de Santos, que produzem a maior parte do petróleo e dos gás natural do país, estão localizados nessa área, para citar apenas dois exemplos.

Segundo o professor Dr. Luiz Felippe Gozzo, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) da Universidade Estadual paulista (Unesp), um dos participantes da pesquisa, os ciclones subtropicais são um fenômeno ‘intermediário’ entre os ciclones extratropicais e os ciclones tropicais, popularmente chamados de furacões ou tufões, ocorrendo principalmente durante o verão e outono.

De acordo com o estudo, publicado na revista científica Climate Dynamics, a ocorrência de ciclones subtropicais, que hoje é de cerca de oito por ano, passaria a seis até o ano de 2080. “Em nossas previsões consideramos o pior cenário de mudanças climáticas, em que nada é feito para mitigá-las”, explicou o professor Luiz Felippe. Para calcular as projeções, os pesquisadores usaram modelos climáticos globais aplicados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e o modelo climático regional (chamado RegCM4).

Ainda que as previsões indiquem um aumento na intensidade dos ciclones subtropicais, o pesquisador esclarece que isso não implica, necessariamente, a ocorrência de novos furacões como o Catarina. Este nome batizou o ciclone tropical de intensidade inédita que atingiu a costa do estado de Santa Catarina em março de 2004, causando a morte de mais de dez pessoas e prejuízos da ordem de R$ 400 milhões.

O professor explicou que as conclusões do trabalho estão alinhadas com o que a imensa maioria dos pesquisadores afirma sobre as consequências das mudanças climáticas: a ocorrência de eventos mais raros e cada vez mais extremos. “Acho que os resultados devem ser vistos como mais um recado da comunidade científica no sentido de que precisamos mitigar o processo de aquecimento global”, afirmou o pesquisador.

Estudos sobre ciclones subtropicais começaram há poucos anos

Os primeiros estudos sobre furacões remontam ao século 19, e o fato de os ciclones extratropicais ocorrerem com frequência maior favoreceu o desenvolvimento do conhecimento sobre eles. “Ao longo de todo o século 20, acreditava-se que existiam apenas esses dois tipos de ciclones”, disse o pesquisador. O cenário começou a mudar a partir dos anos 2000, com o surgimento de ferramentas que ajudaram na identificação desses fenômenos. Considerando-se a região do Atlântico Sul, a primeira climatologia descrevendo um ciclone do tipo subtropical foi publicada apenas em 2012.

Diante da perspectiva de que um trecho do litoral brasileiro populoso e de imensa importância econômica venha futuramente a conviver com os efeitos causados por ciclones subtropicais se formando nas proximidades, é crucial  desenvolver agora o conhecimento de suas características e dinâmicas. “Como ainda estamos construindo o entendimento sobre o sistema de ciclones subtropicais, é difícil fazer previsões sobre o comportamento deles. E saber pode ser um fator fundamental para que se possa orientar a população quanto às ações de prevenção”, concluiu o Dr. Luiz Felippe Gozzo.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Unesp.

Fonte: Marcos do Amaral Jorge, Jornal da Unesp. Imagem: Cidade no sul da Bahia alagada pelas fortes chuvas associadas ao ciclone Ubá. Fonte: Polícia Militar do Estado da Bahia.

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