Notícia

Biodiversidade: pesquisadores descobrem novas espécies de corujas no Brasil

Novo estudo liderado pela Universidade de Helsinque apoia o reconhecimento de novas espécies de corujas sul-americanas, duas delas descritas pela primeira vez

Cleiton Silva e Gustavo Malacco

Fonte

Universidade de Helsinque

Data

sábado, 3 abril 2021 06:40

Áreas

Biodiversidade. Biologia. Ecologia. Zoologia.

No início de 2021, duas novas espécies de corujas estão sendo descritas em uma única publicação como novas para a ciência. Uma equipe multinacional envolvendo pesquisadores da Universidade de Helsinque, Brasil e EUA publicou um estudo detalhado com foco na variação morfológica, vocal e genética em um grupo de corujas da Amazônia e da Mata Atlântica da América do Sul, chamadas de Black -capped / Tawny-bellied Screech Owl complex (Megascops atricapilla – M. watsonii). O termo “complexo” descreve a incerteza geral no número real de espécies neste grupo de corujas, que variou de um a três nas últimas décadas.

“Nem mesmo ornitólogos profissionais que trabalharam com corujas durante toda a vida concordariam com o número real de espécies encontradas neste grupo, então um estudo como o nosso é esperado há muito tempo”, disse o Dr. Alex Aleixo, chefe da pesquisa equipe responsável pelo estudo e curador de pássaros no Museu Finlandês de História Natural da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

O novo estudo publicado na publicação científica Zootaxa demonstrou a descoberta de seis grupos genéticos diferentes no complexo da coruja-da-baleia-preta/amarela que também são mutuamente distinguidos pelo canto – uma forte indicação de que são espécies distintas.

Em contraste, como amplamente documentado em corujas, a cor da plumagem é variável no complexo, com um único agrupamento genético, por exemplo, contendo cinco formas de cores distintas que variam do canela ao vermelho. Quatro desses seis agrupamentos genéticos já haviam sido anteriormente reconhecidos como subespécies e receberam nomes taxonômicos, e o novo estudo apoia seu tratamento como espécies distintas. No entanto, dois desses clusters nunca foram reconhecidos ou descritos como únicos e, portanto, nunca receberam um nome. Portanto, os autores descreveram essas linhagens diagnosticáveis ​​geneticamente e vocalmente como novas espécies.

252 espécimes, 83 gravações em fita e 49 amostras genéticas analisadas

Os pesquisadores analisaram um total de 252 espécimes, 83 gravações em fita e 49 amostras genéticas de toda a extensão do complexo da coruja-da-baleia-preta/castanha-amarelada na América do Sul. Parte significativa do material de espécimes foi coletada pela própria equipe de pesquisa, principalmente pelo Dr. Sidnei Dantas, que passou boa parte do tempo na pós-graduação procurando e gravando corujas nas florestas sul-americanas. Além disso, as coleções de história natural e os materiais coletados anteriormente foram essenciais para completar a amostragem sem precedentes do estudo.

Uma dessas espécies recém-descritas, a coruja do Xingu (Megascops stangiae), tem seu nome científico em homenagem à falecida Irmã Dorothy Mae Stang (1931 a 2005), uma brasileira nascida nos Estados Unidos membro das Irmãs de Notre Dame de Namur que, por mais de 40 anos, apresentou aos pequenos agricultores que vivem na Amazônia as práticas de sustentabilidade. O nome vulgar Coruja do Xingu refere-se à área onde a nova espécie é encontrada, entre os rios Tapajós e Xingu, onde Stang foi uma líder comunitária muito ativa até o seu assassinato.

A segunda nova espécie descrita no novo estudo é a coruja de Alagoas (Megascops alagoensis), em homenagem ao estado de Alagoas, onde foi registrado pela primeira vez em fevereiro de 2001. Esta nova espécie é conhecida em apenas cinco fragmentos florestais isolados nos estados de Alagoas e Pernambuco.

O desmatamento é uma ameaça

Ambas as novas espécies de corujas descritas pelo novo estudo e uma terceira, anteriormente tratada como uma subespécie, mas validada como uma nova espécie pela primeira vez, ou seja, a coruja de Belém (Megascops ater), estão ameaçadas pelo desmatamento. A coruja do Xingu é endêmica para a área mais severamente queimada da Amazônia pelos incêndios sem precedentes de 2019 e a coruja de Alagoas deve ser considerada criticamente ameaçada devido à extensa fragmentação da floresta na área muito pequena onde ocorre. Por fim, a coruja-do-mato de Belém é endêmica do setor mais desmatado da floresta amazônica, com bem mais de 80% da floresta original já desmatada.

Novas abordagens de pesquisa

O reconhecimento dessas novas espécies só foi possível devido a uma combinação da aplicação de tecnologias modernas como sequenciamento de DNA de espécimes e técnicas de áudio digital analíticas de gravações arquivadas por coleções de história natural e bancos de dados científicos. Novas abordagens para estudar espécimes de museus e bancos de dados digitais cada vez mais acessíveis estão transformando completamente nossa compreensão da biodiversidade e revelando a existência de novas espécies há muito esquecidas, mas já ameaçadas, como as corujas descobertas neste estudo.

Acesse a publicação científica (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Helsinque (em inglês).

Fonte: Universidade de Helsinque. Imagem: À esquerda: a recém-descrita coruja do Xingu, fotografada em Curionópolis, na Amazônia oriental, estado do Pará (Fonte: Kleiton Silva); à direita: a recém-descrita coruja de Alagoas, fotografada na Gameleira, fragmento de Mata Atlântica no estado de Pernambuco (Fonte: Gustavo Malacco).

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