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Baixa fertilidade pode estar relacionada à poluição e ao consumo de derivados do petróleo

Estudo com participação de professor da UFMG indica efeitos como a perda de qualidade das células reprodutoras

Ralf Vetterle via Pixabay

Fonte

UFMG | Universidade Federal de Minas Gerais

Data

quinta-feira, 2 junho 2022 06:10

Áreas

Biologia. Microbiologia. Qualidade do Ar. Química. Saúde. Sociedade.

Nos últimos 50 anos, diversos países industrializados vêm registrando drástico decréscimo na taxa de natalidade, com média inferior à considerada sustentável para a humanidade, que é de 2,1 filhos por mulher. Mais que uma mudança comportamental, associada a fatores econômicos, como vem sendo informado pelos relatórios demográficos, esse fenômeno também pode estar relacionado com o aumento da infertilidade de homens e mulheres, cada vez mais expostos à poluição e ao consumo de produtos derivados de combustível fóssil — um dos principais motores da industrialização. Essa tese é validada por estudo revisional recente, publicado na revista científica Nature Reviews Endocrinology, que teve a participação do Dr. Luiz Renato de França, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa foi liderada pelo Dr. Niels Erik Skakkebaek, professor da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.

No Brasil, a média de seis filhos por mulher, registrada na década de 1960, veio decrescendo significativamente, especialmente a partir de 2005, e chegou a 1,8. E a estimativa é de que o declínio no número de nascimentos seja uma tendência mundial, como verificado em alguns países industrializados, que já registram cerca de 10% de todas as crianças nascidas por meio da reprodução assistida — fertilização in vitro, injeção intracitoplasmática do espermatozoide no óvulo e outras formas de reprodução artificial.

O professor Luiz Renato de França explicou que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a taxa de natalidade global vem sofrendo redução exponencial e contínua. E em países industrializados e com bons registros públicos, como a Suécia e a Dinamarca, de 1970 pra cá, mais de 20% dos homens em idade fértil não têm filhos.

Outra evidência, segundo o professor França, que é aposentado e voluntário no Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, é o número cada vez menor de gêmeos nascidos na última década, o que indica que tanto a qualidade dos espermatozoides quanto a dos ovócitos (células masculinas e femininas que garantem a reprodução em humanos) tem regredido nas regiões industrializadas. “Respirar o ar poluído pela queima de combustíveis fósseis e consumir, cotidianamente, produtos como cosméticos, materiais de construção, roupas, brinquedos e fármacos derivados desses combustíveis representa risco constante para a desregulação do sistema endócrino, com comprometimento dos testículos, ovários e da tireoide”, afirmou o professor do ICB.

Na revisão de 250 publicações científicas, a equipe do professor Skakkebaek considerou as tendências da reprodução humana, comportamento e saúde que estão associadas à infertilidade (a falha em estabelecer uma gravidez clínica após 12 meses de relações sexuais regulares e desprotegidas), incluindo perda da qualidade do sêmen, aumento da incidência de câncer testicular, atrasos no planejamento da gravidez dos casais, entre outras. Os pesquisadores concluíram que as mudanças ocorreram no período de apenas duas gerações, o que é forte indício de participação importante dos fatores ambientais na saúde reprodutiva.

Hormônios mimetizados ou inibidos

O professor Luiz de França explicou que “as substâncias químicas que vazam dos produtos industrializados, como o bisfenol A e os ftalatos, ambos derivados dos combustíveis fósseis, entram em contato com o corpo e mimetizam ou inibem hormônios como estrógenos e a testosterona, que são muito importantes para os tratos reprodutores masculino e feminino e que muitas vezes têm funções diferentes nos dois sexos”.

O bisfenol A (BPA), composto químico que funciona como solvente pouco solúvel em água, pode ser encontrado em plásticos que apresentam em sua composição o policarbonato (de óculos de sol a acessórios de automóveis) e também em revestimentos internos de latas que condicionam alimentos. Os ftalatos, por sua vez, são derivados do ácido ftálico, utilizado como aditivo para deixar o plástico mais maleável, e podem ser encontrados em cosméticos, brinquedos e aparatos médicos. Tal grupo de compostos é tido como cancerígeno e pode causar danos ao fígado, aos rins e aos pulmões, além de anomalias no sistema reprodutivo.

Segundo o professor da UFMG, único brasileiro e representante das Américas na equipe de 16 pesquisadores – outros 11 são da Dinamarca, um da França, um do Reino Unido, um da Austrália e um de Israel –, muitas das alterações são definitivas. “Essas alterações podem causar, por exemplo, a síndrome da disgenesia testicular, cujos sintomas são, entre outros, baixa qualidade do sêmen, câncer testicular e anormalidades congênitas dos órgãos genitais, como testículos que não desceram para o escroto ou ficaram retidos na cavidade abdominal ou no canal inguinal. Nessas condições, a temperatura mais elevada que a do escroto altera a espermatogênese e a qualidade e quantidade de espermatozoides”, afirmou o professor.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Minas Gerais.

Fonte: Teresa Sanches, UFMG. Imagem: Ralf Vetterle via Pixabay.

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