Notícia
Árvore da vida das plantas revela potencial para identificar novas espécies e para conservação
Projeto contou com cientistas de 27 países e mapeou o DNA de 9.500 espécies de angiospermas, construindo “árvore genealógica” que inclui até plantas consideradas extintas
Alexandre R. Zuntini et al, Nature
Fonte
Jornal da USP
Data
domingo, 28 abril 2024 12:15
Áreas
Biodiversidade. Biologia. Biotecnologia. Botânica. Ciência de Dados. Conservação. Ecologia. Engenharia Florestal. Monitoramento Ambiental. Saúde Ambiental. Sustentabilidade. Tecnologias.
Dos trópicos à Península Antártica, é possível encontrar plantas angiospermas – aquelas que são capazes de produzir flores e frutos. E elas vão mais longe: são 90% da vida vegetal conhecida.
Em pesquisa liderada pelo Royal Botanic Garden Kew e publicada na revista científica Nature, cientistas apontaram a criação de uma ‘árvore da vida’ das angiospermas. Como numa árvore genealógica, o projeto mapeou como as plantas estão relacionadas através do sequenciamento e análise do DNA de mais de nove mil espécies, identificando as mudanças que se acumularam ao longo dos anos.
A pesquisa prevê que a ‘árvore da vida’ das angiospermas ajudará em “futuras tentativas de identificar novas espécies, a refinar a classificação das plantas, a descobrir novos compostos medicinais e a conservar plantas diante das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade”, relatou o Dr. José Rubens Pirani, professor e pesquisador do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP). Esses aspectos se tornam viáveis porque a localização da planta no esquema da ‘árvore da vida’ permite predizer suas propriedades.
As informações coletadas terão acesso aberto e livre para a população e a comunidade científica, com o objetivo de democratizar o conhecimento e possibilitar o uso em diferentes áreas. “Abrir os dados para todo mundo e permitir que as pessoas investiguem desde o dado bruto, que é a sequência de DNA, até o mais refinado, que é essa árvore da vida, faz com que qualquer pessoa que queira interagir e construir conhecimento em cima desse trabalho possa fazê-lo”, explicou o Dr. Alexandre Zuntini, biólogo doutor em botânica e pesquisador do Royal Botanic Garden.
Ao todo, participaram da pesquisa 279 cientistas, de 138 organizações, e 27 países. Do Brasil, colaboraram 16 pesquisadores, seis egressos da USP, entre eles o Dr. Alexandre Zuntini e o Dr. José Rubens Pirani.
Com 15 vezes mais dados em comparação a qualquer outro estudo da área, os resultados da pesquisa exploraram a complexidade da evolução das plantas. A tecnologia usada é capaz de separar o DNA através de magnetismo, método que já foi utilizado até em pesquisas com animais extintos, como mamutes. “Uma das vantagens da abordagem técnica molecular usada pela equipe é que ela permite que uma ampla diversidade de material vegetal, antigo e novo, seja sequenciado, mesmo quando o DNA foi extraído de amostra de planta coletada há um ou dois séculos, e esteja muito danificado – isso possibilitou acessar muitas coleções antigas depositadas nos herbários, os museus botânicos”, contou o professor José Pirani.
O estudo contemplou a questão da preservação da biodiversidade de plantas frente a questões ambientais, como as mudanças climáticas. “A gente não vai sobreviver, pensando no mundo com mudanças climáticas [sem as plantas]”. A perda de espécies de angiospermas afeta não apenas os seres humanos, mas todo o bioma comprometido. Por isso, a escolha de medidas a serem tomadas para conservação de uma ou outra espécie faz toda a diferença.
“Nós temos que estabelecer prioridades e essa é uma das formas, pensando nas mudanças climáticas e no futuro do planeta”, esclareceu o Dr. Alexandre Zuntini, destacando que, “se você tem um grupo de plantas que representou, no passado, uma linhagem inteira, e que hoje em dia só é reconhecido por poucas espécies, é importante a gente preservar esse grupo mais do que um grupo amplamente distribuído”.
Entre as amostras de espécies analisadas e sequenciadas, estavam a de uma Arenaria globiflora coletada há aproximadamente 200 anos no Nepal, e de plantas extintas, como a Hesperelaea palmeri, que não é encontrada viva desde 1875. Além de espécies já extintas, foram sequenciados os DNAs de 511 espécies que constam na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.
Fonte: Gabriele Mello, Jornal da USP. Imagem: Tecnologia aplicada utiliza o magnetismo para separar o DNA do restante da planta, método que já foi utilizado com animais extintos, como os mamutes, e permitiu que plantas já extintas e aquelas conservadas em herbários também fossem analisadas. Fonte: Alexandre R. Zuntini et al, Nature.
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