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Trabalho busca reintroduzir em ambiente natural ave brasileira extinta
Uma equipe multidisciplinar de profissionais está concentrando esforços para reintroduzir em ambiente natural um pássaro brasileiro que desapareceu da natureza há quase 30 anos. Trata-se do mutum-de-Alagoas. Ao lado da ararinha-azul, o mutum compõe o grupo das duas únicas aves extintas na natureza no Brasil. “Foi a criação em cativeiro que salvou essas duas espécies do seu completo desaparecimento e hoje trabalha-se para que, um dia, voltem ao seu habitat natural”, destaca o Dr. Mercival Roberto Francisco, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba da UFSCar; ele atua na equipe de conservação do mutum e chama a atenção para a espécie: “a ararinha-azul tem mais visibilidade, ganhou até personagem de desenho no filme Rio, e tem ampla divulgação na mídia. Apesar do mutum-de-Alagoas também estar numa situação tão ruim, pouca gente fala sobre essa ave”.
O mutum integra o Plano de Ação Nacional para Conservação do Mutum-de-Alagoas – hoje incorporado pelo plano para conservação das aves da Mata Atlântica – elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente. “O ICMBio faz vários planos, que reúnem profissionais que trabalham com espécies ameaçadas. O primeiro deles foi o do mutum-de-Alagoas”, conta Francisco. Com habitat original na região litorânea do Estado de Alagoas, a ave, de aproximadamente 90 centímetros de comprimento e plumagem uniforme e negra, com reflexos azulados, foi extinta na natureza em 1979, quando os últimos exemplares foram capturados. Sua extinção foi causada pela caça, aliada a incêndios constantes e desmatamentos, em uma área marcada pela cultura canavieira, o que gerou impactos ambientais como a destruição de florestas.
O trabalho de recuperação do mutum teve início já em 1979 em um cativeiro particular no Rio de Janeiro, do proprietário Pedro Mário Nardelli; preocupado com a conservação da espécie, ele resgatou os últimos exemplares da natureza em uma área de floresta que, poucos meses depois, foi derrubada. Em 1990, todos os mutuns vivos foram levados para o Criadouro Crax – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre, dos criadores Roberto Azeredo e James Simpson, e para o Criadouro Científico e Cultural de Poços de Caldas (CCPC), ambos em Minas Gerais. “Durante os anos de reprodução em cativeiro, parte da população foi hibridizada com o mutum-cavalo, em princípio, para produzir alguns exemplares como uma medida de segurança caso houvesse problemas futuros de endogamia, ou seja, a perda de fertilidade e de resistência a doenças resultante do fato de todos os exemplares do mutum-de-Alagoas serem muito aparentados. No entanto, em determinado momento, perdeu-se o controle sobre as genealogias, tornando-se a separação dos animais híbridos e puros um novo desafio para a conservação da espécie”, descreve o professor da UFSCar.
Por isso, em 2008, teve início um projeto de pesquisa na tentativa de se realizar o resgate genético da espécie. Essas aves foram fotografadas, marcadas com anilhas – para identificação permanente de cada animal – e passaram por análises morfológica e genética, a partir das quais foi possível distinguir os animais puros dos híbridos. Entre as principais características aparentes do mutum-de-Alagoas puro estão o bico com duas cores bem marcadas (vermelho e branco) e a região da orelha sem penas, em formato de meia lua; na cauda, é possível ver que a retriz (faixa) de penas central não é branca na ave pura, como ocorre na versão híbrida.
Acesse a notícia completa no site da UFSCar.
Fonte: Denise Brito, UFSCar. Imagem: Mercival Francisco – UFSCar/DCA-So, divulgação.
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