Destaque

Semana do Meio Ambiente: ‘Nossa dieta está levando o planeta à ruína’

Fonte

UFSC | Universidade Federal de Santa Catarina

Data

terça-feira, 18 junho 2019 14:00

O planeta já passou por diferentes eras geológicas decorrentes de alterações na temperatura, entretanto, o que vivemos agora é inédito. As atividades humanas ao longo dos últimos séculos – e muito mais nas últimas décadas – têm modificado o clima da Terra com tal intensidade, extensão e rapidez que cientistas dizem que já entramos em uma nova era, o Antropoceno. Entre as atividades mais prejudiciais aos ecossistemas está toda a cadeia produtiva que envolve nossa alimentação baseada em produtos de origem animal. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem recomendado a mudança para uma dieta sem carnes e laticínios como forma de reduzir o aquecimento global. Um relatório apresentado em 2010 afirmava que “alimentos de origem animal, tanto carnes quanto laticínios, requerem mais recursos e causam mais emissões do que alternativas à base de vegetais.”

O impacto da agropecuária no meio ambiente foi um dos temas debatidos durante a Semana do Meio Ambiente, realizada de 3 a 7 de junho na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com o auditório da reitoria completamente lotado, a Dra. Sônia T. Felipe, professora de Filosofia aposentada pela UFSC, iniciou sua palestra de forma categórica. “Há mais de 70 anos estamos levando o planeta à ruína por conta da produção de alimentos para servir os animais, que serão depois servidos no prato de metade da população humana no mundo. Isso porque a outra metade não come regularmente carnes, queijos ou ovos.” Ao longo dos 50 minutos seguintes ela prendeu a atenção do público apresentando dados que revelam uma realidade sobre a qual pouco se pensa.

As informações são fruto de pesquisas que a professora realizou para a produção de dois livros: Galactolatria(2012) e Carnelatria (2018). Os neologismos dos títulos fazem referência, respectivamente, à “idolatria ao leite” e à “idolatria à carne”. Preocupada com as drásticas consequências decorrentes do aquecimento do planeta – que já se materializam em ciclones, furacões, inundações, secas, queimadas etc –, a Dra. Sônia decidiu investigar os danos da produção agropecuária a partir de uma ampla revisão bibliográfica. Analisou livros, relatórios científicos, pesquisas acadêmicas nas áreas de agronomia, zootecnia, medicina veterinária, e chegou a números estratosféricos.

Um artigo publicado pela revista científica Science em 2018 revelou que a produção de animais para consumo humano corresponde a 83% das terras cultivadas e 58% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Mas fornecem apenas 35% das proteínas e 18% das calorias que ingerimos. 93% de todo o cultivo de soja se destina à produção de carnes, leites e ovos. Uma dieta baseada em vegetais reduziria o uso da terra em 76% e a emissão de CO2 em 49%.  “A maior parte do petróleo do mundo hoje é usada para a indústria de animais, que é uma grande devastadora de tudo que temos no planeta. A dieta onívora é uma dieta mortal. Tem implicações não apenas para os animais, que matamos para comer, mas também na biodiversidade. Quanto de água? Quanto de comida? Quanto de excrementos? Quanto de emissão de gases de efeito estufa essa dieta centrada em carnes, laticínios e ovos representa para o planeta?”, indagou Sônia.

Aquecimento global

O aquecimento global é uma das causas das mudanças climáticas. O termo foi popularizado a partir de 1975, quando o cientista norte-americano Wallace Smith Broecker publicou um artigo alertando sobre o aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. O dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), juntamente com vapor d’água, formam uma “barreira” que impede os raios solares de, quando refletidos na superfície terrestre, retornarem ao espaço. Esse calor retido forma o efeito estufa, que aquece as águas dos oceanos e aumenta a temperatura do planeta como um todo. Uma das consequências desse aquecimento é o derretimento das calotas polares, conforme apontou Sônia: “O gelo está derretendo dez vezes mais rapidamente. O que estava previsto para ocorrer somente em 2075 começou em 2015, 60 anos antes.”

Atualmente, a agropecuária é o setor da produção que mais acelera esse aquecimento. “A agropecuária produziu, em 2017, 972 milhões de toneladas de CO2, sendo que a pecuária sozinha gerou 423 milhões de toneladas. Em contrapartida, a agricultura familiar, que produz alimentos diretamente para humanos, produziu 71 milhões de toneladas. Vejam a desproporção! E ainda não está incluído aí a emissão pelo transporte dessa produção. Cada alimento, para chegar à mesa, passou por pelo menos 10 viagens, desde a semente até o supermercado. Se os vegetais passam por 10 etapas, os alimentos de origem animal exigem 20, o que implica em mais queima de combustível fóssil. Uma alimentação centrada em animais é muito mais poluidora.”

No Brasil, onde o agronegócio é a principal atividade econômica, a produção de alimentos de origem animal representa cerca de 70% da emissão total de gases de efeito estufa. “Todas as outras atividades antrópicas, toda a indústria pesada, inclusive a metalurgia, representam apenas 29% das emissões. E se considerarmos só o setor alimentício, a produção de alimentos de origem animal gera 95% das emissões de CO2 no Brasil. Os alimentos vegetais destinados aos humanos representam apenas 5% dessas emissões”, expôs a pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página da UFSC.

Fonte: Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC. Imagem: Henrique Almeida/Agecom/UFSC – divulgação.

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