Destaque
População de Brumadinho apresenta alta prevalência de sintomas psiquiátricos
Fonte
Medicina UFMG | Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
Data
domingo, 13 novembro 2022 14:55
Estudo com participação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontou para altas prevalências de sintomas psiquiátricos entre a população de Brumadinho após o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, ocorrido em 2019. Entre os temas pesquisados estão depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade, ideias de morte/automutilação e pior qualidade do sono.
Os sintomas depressivos foram a condição mais prevalente (29,3%), seguidos pelos sintomas de TEPT (22,9%) e sintomas ansiosos (18,9%). Os piores cenários foram entre mulheres, idosos, moradores da área mais próxima à mineração e pessoas com escolaridade de nível médio. A coleta foi feita por meio de entrevistas entre os meses de junho e dezembro de 2021. Foram incluídos na amostra 2.740 moradores adultos da cidade.
A Dra. Maila de Castro, professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, explicou que esses grupos estão mais vulneráveis ao adoecimento em saúde mental e que precisam de uma atenção especial das autoridades. Além disso, a vulnerabilidade ao adoecimento é mais presente quanto maior a exposição ao desastre. “A vida ameaçada, a destruição de sua casa ou perder alguém querido são situações comuns em desastres e esses momentos são traumáticos para as pessoas”, destacou a professora.
Chamou a atenção dos pesquisadores a semelhança da prevalência dos sintomas depressivos encontrados na escala de rastreio aplicada em Brumadinho com o alto índice de diagnósticos de depressão em Mariana, apontados no relatório da Pesquisa sobre a Saúde Mental das Famílias Atingidas pelo Rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (Prismma), que chegou a 28,9%. Essa prevalência é cerca de cinco vezes maior do que a descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a população brasileira, em dados de 2015.
A pesquisadora entende que os dados reforçam a magnitude dessas tragédias. “Apesar de termos a percepção de uma resposta mais imediata de órgãos públicos e sociedade civil se compararmos com a tragédia em Mariana, o que vemos nas pesquisas é uma similaridade entres os afetados, revelando que o impacto na saúde mental é muito grande”, enfatizou.
A pesquisa faz parte do Projeto Saúde Brumadinho, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz Minas) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com participação da UFMG. Também apoiou a iniciativa o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O artigo foi publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia.
O artigo ressaltou que a coleta de dados ocorreu em 2021, durante a pandemia de COVID-19. Nesse período, estudos de diferentes países, incluindo o Brasil, mostraram altas taxas de transtornos psiquiátricos devido às medidas de distanciamento social. Assim, a alta prevalência de sintomas psiquiátricos em Brumadinho pode ser resultado, também, do impacto negativo da pandemia e não apenas causada pelo rompimento da barragem.
Agora, a expectativa da equipe é seguir o acompanhamento longitudinal, para que seja possível acompanhar a saúde do grupo ao longo dos próximos anos e traçar relações de causalidade.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Faculdade de Medicina da UFMG.
Fonte: Faculdade de Medicina da UFMG.
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