Destaque
Poluição: pesquisadora da USP estuda composição de material em pulmões de cadáveres e IPT faz determinação de compostos cancerígenos
Fonte
IPT | Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
Data
quinta-feira, 10 novembro 2022 07:05
Qual é a composição do material particulado encontrado em pulmões de cadáveres? Para responder a esta pergunta, Daniela Perroni Frias, doutoranda da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), está trabalhando desde 2019 em um projeto de pesquisa que estuda os efeitos de antracose em cocultura de células A549 (câncer de pulmão de pequenas células) e macrófagos tipo 1 ou tipo 2, sob a coordenação da Dra. Mariangela Macchione, professora da FMUSP.
A antracose pode ser definida como a pigmentação negra dos pulmões e da árvore traqueobrônquica (área que, juntamente com as vias aéreas superiores, tem a função de acondicionar e conduzir o ar até o pulmão) causada pela deposição de partículas de carbono inaladas, que provocam lesões inflamatórias no pulmão chamadas de pneumoconiose – esta é a designação usada genericamente, segundo a Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo, para todas as doenças que atingem o parênquima dos pulmões causadas por inalação de poeiras, independentemente do processo fisiopatológico envolvido.
A associação entre câncer e inalação de partículas não é nova: em 2014, o patologista Dr. Paulo Saldiva participou do painel da International Agency for Research in Cancer e mostrou a prevalência dos casos de câncer atribuídos à poluição do ar. O professor Saldiva afirmou em entrevista para a Revista Pesquisa Fapesp que havia evidências muito sólidas da redução da expectativa de vida por doenças respiratórias e cardiovasculares induzidas pela poluição do ar e também que a exposição à poluição urbana é uma das causas do câncer de pulmão.
“O objetivo do trabalho é o de estudar a composição do material particulado da antracose e o efeito no metabolismo celular, utilizando células de brônquios humanos normais, células de adenocarcinoma pulmonar e macrófagos tipo 1 e tipo 2, expostos a partículas de exaustão de diesel e antracose”, explicou Daniela Frias.
Segundo a pesquisadora, foram escolhidas células de brônquios normais porque elas não apresentam nenhum tipo de patologia, garantindo que a resposta encontrada pelo estudo seja provocada apenas pela exposição às partículas, sem nenhuma condição prévia.
No caso da segunda escolha, as células de adenocarcinoma são já derivadas de um câncer, contrastando com as células normais, o que permite analisar o perfil de resposta à exposição das partículas em um ‘cenário sem doença’ versus um ‘cenário com doença’.
Finalmente, como os macrófagos (importantes células do sistema imunológico, envolvidas na eliminação de células/partículas estranhas ao organismo) têm uma participação ativa no estabelecimento da antracose (eles fagocitam as partículas que ficam depositadas), a pesquisadora utilizará a cocultura dessas células pulmonares normais e cancerígenas com dois de seus tipos: M1 – pró-inflamatório e M2 – anti-inflamatório (este mais relacionado ao desenvolvimento de tumores).
Metodologia no IPT
O Laboratório de Química e Manufaturados do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) participa do trabalho com a determinação dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) no material extraído dos cadáveres. A composição dos HPAs está sendo analisada por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (GCMS) porque esta técnica permite a correta identificação e quantificação de 18 moléculas de HPA, incluindo algumas de grande interesse biológico por conta da toxicidade, como o naftaleno, o pireno e o benzo(a)antraceno.
“Essa técnica permite ainda estabelecer indicadores de origem de contaminação baseado na relação entre os compostos detectados: por exemplo, se a contaminação é de origem petrogênica, quando ocorre a exposição direta a derivados de petróleo, ou pirogênica, quando acontece a exposição a produtos de combustão incompleta”, afirmou João Paulo Amorim de Lacerda, pesquisador do laboratório.
É a primeira vez que o laboratório do IPT realiza uma avaliação de material extraído de cadáveres. E quais seriam as particularidades para executar este trabalho em comparação a análises realizadas no dia a dia? Segundo o pesquisador, a diferença é que esse material está retido no material biológico dos tecidos pulmonares, praticamente dentro das células. Assim, foi usado um processo enzimático para separar as partículas do tecido (realizado pela pesquisadora da USP) que, em seguida, foram recuperadas para que fosse enviado apenas o particulado preto para as análises.
Acesse a notícia completa na página do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Fonte: IPT.
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