Destaque

Plantas de biomas brasileiros inibem infecção por coronavírus

Fonte

UFU | Universidade Federal de Uberlândia

Data

terça-feira, 3 outubro 2023 11:20

Proteínas extraídas do feijão-bravo e do olho-de-boi, duas plantas típicas da caatinga e cerrado brasileiros, apresentaram resultados promissores no combate ao coronavírus. Segundo a pesquisa, as formas proteicas das plantas, as lectinas, presentes nessas espécies, inibiram infecções, já no início, por diferentes variantes do vírus Sars-CoV-2. É o que explicou Victória Riquena Grosche, biomédica e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Microbiologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Antivirais (Lapav) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e uma das autoras do: “São duas proteínas diferentes e dois princípios ativos de cada planta, o ConBR e o DVL, que são chamadas de ligantes de manose”. O estudo foi publicado na revista científica Viruses.

As ligantes de manose também são parte importante do sistema imunológico do ser humano, pois auxiliam na neutralização de microrganismos patogênicos. A manose é um tipo de açúcar encontrado em muitas moléculas do nosso corpo e também em alguns vírus, como o da COVID-19. O que a pesquisa demonstrou é que as ligantes de manose das proteínas vegetais interagem com as microproteínas presentes no vírus Sars-CoV-2, as glicoproteínas spike, impedindo que elas se conectem ao receptor celular.

Mas o estudo só foi possível após uma longa jornada, que começou na Universidade Federal do Cariri (UFCA), uma das parceiras do projeto. As plantas Canavalia brasiliensis e Dioclea violacea, popularmente conhecidas como, feijão-bravo-do-ceará e olho-de-boi, antes de chegarem à fase de testagem, são coletadas na natureza e passam pelo processo de purificação em laboratório, que é o isolamento químico das proteínas vegetais, as já citadas lectinas.

Após a extração, essas proteínas foram enviadas em formato de pó ao Lapav, assim começando a testagem. Essa testagem é feita em laboratório de biossegurança nível dois, que são aqueles de diagnóstico que utilizam algumas barreiras de contenção, como equipamentos de proteção individual, segurança biológica e organização estrutural do ambiente. Nesse procedimento foi feito o teste com um modelo viral, que não é completo, para avaliar a entrada do Sars-CoV-2 nas células com as lectinas.

Outro importante passo foi dado após essa triagem. Em colaboração com pesquisadores da Unesp de São José do Rio Preto e da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (USP-RP), os testes passaram a ser realizados em laboratórios de biossegurança nível três, que são aqueles em que o vírus é usado em sua forma completa. Nesses laboratórios, Victória Grosche também testou as variantes Gama e Ômicron, que no período da pesquisa eram as mutações mais frequentes no Brasil.

Mesmo a extração das lectinas dessas plantas não sendo inédita, a investigação ainda não havia explorado os efeitos dessas lectinas no vírus da COVID-19. E, para VIctória Grosche, o trabalho desenvolvido exclusivamente no Brasil, é motivo de alegria: “São plantas brasileiras, pesquisadores brasileiros e centros de pesquisa no Brasil.”

As testagens na UFU que começaram entre fevereiro e março de 2022, sendo finalizadas em dezembro do mesmo ano, agora iniciam outra etapa. Por ser uma pesquisa base que sugere a potência das proteínas vegetais no combate ao coronavírus, o intuito é que essas lectinas possam ser usadas em medicamentos antivirais no futuro.

Com o financiamento das agências de fomento, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), Victória Grosche vê com entusiasmo essa descoberta que agora passará para a testagem de outros vírus ainda não catalogados:  “Levanto a bandeira para mostrar o quanto nosso país tem uma diversidade vegetal absurda e é uma tela em branco para buscar milhares de compostos com atividades antivirais, antimicrobianas e/ou antitumorais”, concluiu a pesquisadora.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Portal Comunica UFU.

Fonte: Thuanne Santos, Portal Comunica UFU.

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