Destaque
Pesquisadores da UFSM participam de projeto que estuda efeitos da perda de corais na costa brasileira
Os corais aumentam a presença de peixes dos recifes na costa brasileira e, ao mesmo tempo, a perda dos corais parece não comprometer o papel dos peixes na manutenção do ecossistema. Estas são as conclusões de um estudo desenvolvido por pesquisadores do projeto ReefSyn, do Centro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O trabalho foi publicado recentemente na revista Scientific Reports.
Os resultados contrastam com o que ocorre nos oceanos do Indo-Pacífico e Caribe, onde o declínio de corais frequentemente leva ao colapso geral de todo o ecossistema recifal. Assim, é possível que os peixes em recifes brasileiros consigam se adaptar melhor a um futuro com menos corais, que são extremamente sensíveis às mudanças climáticas.
Os recifes são estruturas formadas por esqueletos de invertebrados sobre as rochas das porções mais rasas dos oceanos. Estes ecossistemas ocupam apenas 0,000063% da superfície terrestre e abrigam pelo menos um quarto do conjunto da fauna e flora marinhas. Os corais são um dos organismos que ocupam os recifes de forma estrutural e chamam a atenção pela variedade de formas e cores. Entretanto, devido à pesca, poluição e às mudanças climáticas, estas espécies estão em declínio globalmente. Estima-se que 14% dos corais do mundo desapareceram entre 2009 e 2018, o que representa cerca de 11.700 km².
“Os recifes de coral no Brasil são considerados ‘marginais’ para o desenvolvimento da maior parte das espécies de corais. Como aqui as águas são turvas, há menos luz penetrando na coluna d’água e uma menor diversidade e cobertura de espécies de corais nos recifes quando a comparamos com a diversidade e cobertura encontradas em recifes do Indo-Pacífico e do Caribe”, explicou a Dra. Mariana Bender, professora do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), coordenadora do ReefSyn e coautora do estudo. Nos recifes brasileiros a cobertura predominante é de algas.
Mesmo não sendo muito abundantes, os corais do litoral brasileiro favorecem a ocorrência de peixes e assim ajudam a aumentar a diversidade de peixes recifais. “As colônias de corais oferecem muitos recursos para os peixes recifais, como abrigo e alimentação. Por isso, cerca de 40% das espécies de peixes analisadas, de um total de 113 espécies, têm maior probabilidade de ocorrer em locais com maior abundância de corais. Desta forma, a ocorrência dos corais beneficia as populações de peixes recifais”, explicou o Dr. André Luza, primeiro autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado do ReefSyn.
No caso brasileiro, este papel dos corais se torna ainda mais interessante por serem importantes mesmo sendo pouco abundantes, em contraste às algas, que são muito comuns porém não aumentaram tanto quanto os corais a chance de ocorrência de peixes no modelo deste estudo. “Este resultado demonstra que os corais são espécies-chave para a manutenção da biodiversidade nos recifes brasileiros, mesmo não sendo dominantes como são nos recifes do Caribe e do Indo-Pacífico”, destacou o Dr. Guilherme Longo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coautor do trabalho.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores fizeram modelagens computacionais a partir da observação de peixes recifais em 36 pontos distribuídos ao longo dos 8.000 km de litoral brasileiro. A coleta de dados consistiu na instalação de câmeras de vídeo e fotográficas cobrindo dois metros quadrados em vários sítios de coleta, resultando em aproximadamente 4.000 horas de filmagem.
“Foram inúmeras câmeras para registrar a atividade dos peixes nos recifes. Com isso, foi possível registar e associar a atividade dos peixes sobre os organismos fixos no fundo do mar, em uma escala bem fina”, explicou a Dra. Mariana Bender. Este esforço de coleta foi possível graças à parceria com o projeto SisBiota Mar, também do CNPq.
Segundo os autores, os peixes recifais brasileiros provavelmente manterão boa parte das funções ecológicas que realizam, apesar dos declínios de corais induzidos pelo clima e consequente perda de peixes associados a corais.
Acesse o artigo científico completo (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal de Santa Maria.
Fonte: Assessoria de Comunicação do SinBiose/CNPq e UFSM.
Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.
Por favor, faça Login para comentar