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Para prevenir a próxima pandemia, cientistas dizem que devemos dar atenção ao ar como à comida e à água

Fonte

Universidade do Colorado Boulder

Data

sexta-feira, 14 maio 2021 10:50

No século 21, as pessoas passam a maior parte do tempo dentro de casa ou em locais fechados de trabalho, mas o ar que respiramos dentro dos edifícios não é regulado no mesmo grau que os alimentos que comemos e a água que bebemos. Um grupo de 39 pesquisadores de 14 países, incluindo pesquisadores da Universidade do Colorado Boulder, nos Estados Unidos, dizem que é preciso mudar para reduzir a transmissão de doenças e prevenir a próxima pandemia.

Em um artigo publicado na revista Science no dia 14 de maio, os pesquisadores clamam por uma “mudança de paradigma” no combate a patógenos aerotransportados como o SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19, exigindo o reconhecimento universal de que as infecções respiratórias podem ser evitadas melhorando sistemas de ventilação interna.

“O ar pode conter vírus assim como a água e as superfícies”, disse a Dra. Shelly Miller, coautor da publicação e professor de Engenharia Mecânica e Ambiental da Universidade do Colorado Boulder. “Precisamos entender que é um problema e que precisamos ter, como nossas ‘ferramentas’, abordagens para mitigar riscos e reduzir as possíveis exposições que podem acontecer com o acúmulo de vírus no ar interno.”

O documento foi publicado menos de duas semanas depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o SARS-CoV-2 se espalha predominantemente pelo ar e 10 meses depois que a OMS reconheceu o potencial de transmissão por aerossol e 239 cientistas assinaram uma carta aberta às comunidades médicas e órgãos governamentais sobre o risco potencial de transmissão aérea. Os pesquisadores agora apelam à OMS e outros órgãos governamentais neste novo artigo para estender suas diretrizes de qualidade do ar em ambientes internos para incluir patógenos transportados pelo ar e reconhecer a necessidade de controlar os riscos da transmissão aérea de infecções respiratórias.

Essa mudança nos padrões de ventilação deve ser semelhante em escala à transformação do século 19 que ocorreu quando as cidades começaram a organizar o abastecimento de água potável e sistemas de esgoto centralizados. Mas também corrigiria um grande equívoco científico que surgiu na mesma época.

Quando as pessoas em Londres estavam morrendo de cólera na década de 1850, os cientistas presumiram que a doença fosse transmitida pelo ar. Mas o médico britânico John Snow descobriu que eram os microrganismos na água contaminada que provocavam a doença. Da mesma forma, o médico húngaro Ignaz Semmelweis mostrou que lavar as mãos antes do parto reduziu muito as infecções pós-parto. Embora essas descobertas tenham encontrado grande resistência em seu tempo, os cientistas finalmente concordaram que, nesses casos, a água e as mãos – não o ar – eram os vetores da doença.

Ainda assim, em 1945, o cientista William Wells publicou um artigo lamentando que, enquanto estávamos investindo na desinfecção da água e na manutenção da limpeza da comida, não havíamos feito nada pelo ar interno, devido à negação da transmissão aérea. Sua pesquisa sobre sarampo e tuberculose – causados ​​por patógenos transportados pelo ar – desafiou essa noção no século 20, mas não a quebrou.

Agora que a pesquisa sobre o SARS-CoV-2 finalmente revelou que muitas doenças respiratórias podem ser transmitidas pelo ar, os pesquisadores argumentam que devemos agir.

“Agora não vamos perder tempo até a próxima pandemia”, disse o Dr. Jose-Luis Jimenez. coautor e membro do Instituto Cooperativo de Pesquisas Científicas (CIRES) e professor de Química da Universidade do Colorado Boulder. “Precisamos de um esforço social. Quando projetamos um edifício, não devemos apenas colocar a quantidade mínima de ventilação possível, mas em vez disso, devemos manter em mente as doenças respiratórias em curso, como a gripe e futuras pandemias”, ressaltou o pesquisador.

O mal-entendido de longa data sobre a importância da transmissão aérea de patógenos deixou uma grande lacuna de informações sobre a melhor forma de construir e gerenciar sistemas de ventilação de edifícios para mitigar a propagação de doenças – com exceção de algumas instalações médicas, de fabricação e de pesquisa. Em vez disso, os edifícios se concentraram na temperatura, no controle de odores, no uso de energia e na percepção da qualidade do ar. Portanto, embora existam diretrizes de segurança para produtos químicos como o monóxido de carbono, atualmente não há diretrizes, globalmente ou nos EUA, que regulem ou forneçam padrões para mitigar bactérias ou vírus no ar interno resultantes de atividades humanas.

“O ar nos prédios é compartilhado – não é um bem privado, é um bem público. E precisamos começar a tratá-lo assim”, disse a Dra. Shelly Miller.

A Dra. Lidia Morawska, autora principal do artigo e diretora do Laboratório Internacional de Qualidade do Ar e Saúde da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, disse que é necessário mudar a percepção de que não podemos arcar com o custo do controle. Ela observa que o custo global mensal da COVID-19 foi estimado conservadoramente em US$ 1 trilhão e o custo da gripe apenas nos EUA excedeu US$ 11,2 bilhões anualmente.

Embora uma análise econômica detalhada ainda tenha de ser feita, as estimativas sugerem que os investimentos necessários em sistemas de construção podem ser inferiores a 1% do custo de construção de um edifício típico.

Os sistemas de ventilação também devem ser controlados por demanda para se ajustar às diferentes ocupações da sala e às diferentes atividades e taxas de respiração, como fazer exercícios em uma academia e sentar em uma sala de cinema, de acordo com a Dra. Lidia Morawska. Para espaços que não podem melhorar a ventilação a um nível adequado para o uso do espaço, ela disse que a filtragem do ar e desinfecção serão necessárias.

Como os edifícios consomem mais de um terço da energia globalmente, grande parte para o aquecimento ou resfriamento do ar externo à medida que é trazido para dentro, seria útil projetar um “modo de pandemia”, que permitiria que os edifícios usassem apenas mais energia quando necessário, disse o Dr. Jimenez.

Os pesquisadores também pedem que padrões nacionais abrangentes de qualidade do ar interno sejam desenvolvidos e aplicados por todos os países e que essas informações sejam disponibilizadas ao público.

“Acho que há uma certa demanda que precisa começar a vir do consumidor e da pessoa que trabalha nesses espaços internos para motivar a mudança”, concluiu a Dra. Shelly Miller.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade do Colorado Boulder (em inglês).

Fonte: Kelsey Simpkins, Universidade do Colorado Boulder.

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