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Destruição da diversidade e saúde: queimadas devastam a vida no Pantanal e fora dele

Fonte

Fiocruz | Fundação Oswaldo Cruz

Data

quarta-feira, 10 julho 2024 10:50

Maior área úmida continental do planeta e casa de uma biodiversidade tão diversa quanto ameaçada, o Pantanal passa por mais uma intensa série de queimadas. Estima-se que, nos últimos cinco anos, os incêndios tenham degradado cerca de 9% da vegetação do bioma.

Essa destruição gera prejuízos para a saúde das espécies que habitam o Pantanal e também das que vivem fora dele. Os danos são incontáveis e atingem, em curto, médio e longo prazo, populações humanas e outros animais de formas variadas. Sobre este assunto, a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) entrevistou as pesquisadoras Dra. Sandra Hacon e Dra. Marcia Chame.  Ambas são biólogas e, há décadas, têm se dedicado a estudar questões ligadas à relação entre saúde e ambiente, inclusive no Pantanal.

“Para os poluentes não há fronteiras”, afirmou a Dra. Sandra Hacon, pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (DENSP/ENSP), ao comentar o alcance dos problemas de saúde causados pelas queimadas. A depender da direção, da velocidade dos ventos, de outras condições meteorológicas e do tamanho das partículas geradas pela queima, a poluição pode chegar cruzar municípios, estados e até chegar a outros países. “Partículas de poluentes podem penetrar profundamente nos pulmões, chegando à corrente sanguínea, com efeitos sistêmicos para o organismo humano. Esses poluentes são responsáveis por cerca de um terço das mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica, asma e câncer de pulmão, além de um quarto das doenças do sistema circulatório”, destacou a pesquisadora.

Coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre (Pibss/Fiocruz) e pesquisadora da ENSP/Fiocruz, a Dra. Marcia Chame também apontou a contaminação pela poluição atmosférica ao elencar problemas enfrentados por quem vive no Pantanal durante as queimadas. Ela destacou ainda que a contaminação ambiental também torna a água imprópria para consumo, elevando a frequência de infecções intestinais.

Nesse contexto, há ainda “um aumento de doenças de pele de etiologia desconhecida”, complementou. “A fumaça e o material particulado no ar geram contaminação por mercúrio e outros elementos químicos tóxicos. As cinzas brancas, resultante da queima de toda a matéria orgânica, também é composta de elementos que geram contaminação, intoxicação e doenças degenerativas como câncer, que só vão aparecer tempos depois. Com a chegada das chuvas, toda a cinza deságua nos corixos, poluindo os rios, as baías e matando peixes e alevinos (iscas que são fonte de renda de muitas comunidades). Não há mais água potável para beber”, detalhou a Dra. Marcia Chame.

Outros danos listados pela Dra. Marcia Chame atingem todos os aspectos da vida, da saúde física e mental à economia, ampliando a dimensão do estrago. “As pessoas pantaneiras sofrem os mesmos impactos que animais e plantas. Respiram o mesmo ar e sentem o mesmo calor, sofrem queimaduras quando tentam apagar o fogo e são alcançadas ou contaminadas por ele. Perdem suas lavouras, seus animais de criação e estimação, a pesca, o turismo e formas alternativas de viver. Perdem a palha e a madeira com as quais constroem suas casas nas aldeias. Além disso, perdem a referência dos lugares onde nasceram e vivem”, lamentou a pesquisadora.

Ao listar os prejuízos, a Dra. Marcia também chamou à atenção para a saúde mental dos atingidos: “Os níveis de suicídios são grandes. Há depressão entre idosos e jovens, que não sabem por onde começar e não possuem recursos para um recomeço. Por serem comunidades pequenas e distantes dos grandes centros urbanos, não geram apelos e sensibilização nacional. Estão sós e apartadas da esperança”.

Na mesma linha, a Dra. Sandra Hacon reforçou que as queimadas prejudicam a saúde humana de forma desproporcional, pois os determinantes sociais da saúde, como local e condições de moradia, nível de acesso a serviços de saúde e falta de saneamento, tendem a exacerbar os efeitos da exposição aos poluentes. “Em geral, os impactos são mais acentuados nas populações de menor renda per capita, que vivem condições de moradia precárias”, afirmou. A poluição do ar, das águas, dos alimentos, do solo, atinge os expostos de diferentes maneiras, intensidades e magnitudes. “Os mais vulneráveis, como crianças menores de 5 anos, gestantes, idosos e pessoas com comorbidades, são as mais afetadas”, explicou a Dra. Sandra.

Distantes de áreas naturais, como florestas e matas, muitas pessoas não se dão conta de que a qualidade de vida e a saúde delas depende da biodiversidade. Em oposição ao senso comum, as consequências trágicas das queimadas no Pantanal não se restringem a quem habita aquele bioma. “A complexa rede de espécies que garantem o equilíbrio ecossistêmico é a rede que garante a sustentabilidade da vida e, portanto, também da espécie humana”, disse a Dra. Marcia Chame.

O fogo natural no Pantanal representa menos de 5% do total das queimadas que o atingem. Diante disso, a bióloga faz uma crítica ao afirmar que “não há avanços significativos que sustentem ações para a conservação do Pantanal e que garantam, portanto, a saúde humana, animal, do ecossistema e da economia, interdependentes”.

Acesse a notícia completa na página da Fiocruz.

Fonte: Barbara Souza (Ensp/Fiocruz).

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