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Com tratamento adequado, água de rio afetado pela ruptura da barragem de Brumadinho poderia ser empregada para fins de abastecimento
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem do complexo da Mina Córrego Feijão, pertencente à mineradora Vale, rompeu-se e despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos na bacia do rio Paraopeba, em Minas Gerais. A avalanche de lama deixou 270 pessoas mortas, das quais 267 foram identificadas e três seguem desaparecidas, quatro anos depois. Desde então, um grupo interdisciplinar de pesquisadores busca entender quais foram os impactos do desastre sobre a qualidade da água e sedimentos da bacia do Paraopeba e a possibilidade de uma eventual recuperação.
A barragem, localizada no município de Brumadinho, a 54 km de Belo Horizonte, destinava-se a acumular os rejeitos oriundos de uma mina de minério de ferro no ribeirão Ferro-Carvão. Com o rompimento, foi liberado no ambiente o equivalente a aproximadamente 180 mil contêineres de metais, em forma de lama tóxica que contém elementos como ferro, manganês, alumínio, arsênio, chumbo e fósforo. No dia seguinte ao desastre social e ambiental, o Ibama multou a Vale em R$ 250 milhões. Quase dois anos depois, em fevereiro de 2021, a mineradora assinou um Termo de Compromisso de mais de R$ 37 bilhões em indenizações pelos danos causados. Os valores e detalhes do termo foram acertados entre a Vale, o Governo de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública de Minas Gerais.
O acordo atribui à Vale a obrigação de recuperação ambiental e a execução de projetos socioeconômicos em Brumadinho e nos outros 25 municípios localizados na Bacia do Paraopeba que foram afetados. Um dos projetos desenvolvidos no âmbito desse acordo é o de proceder à pesquisa e ao monitoramento da qualidade da água e dos sedimentos no rio Paraopeba.
Desde 2021, esta tarefa vem sendo conduzida por uma equipe que compreende docentes da Unesp, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Portugal. Supervisionado pelo MP-MG e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), o projeto tem como objetivo estimar o tempo necessário para que o rio Paraopeba retorne às condições prévias ao rompimento da barragem, além de compreender a dinâmica entre as chuvas, a vazão do rio e os rejeitos na qualidade da água.
Para realizar suas análises, o grupo de pesquisa recebe dados sobre a qualidade de sedimentos e da água periodicamente, retirados por funcionários do IGAM e da Vale em 32 pontos de coleta distribuídos ao longo do rio, a partir do local do rompimento da barragem. O grupo, então, organiza os resultados das análises e desenha uma visão holística da qualidade da água em diferentes pontos da bacia. Outro elemento metodológico relevante para as pesquisas é a diferenciação das análises conduzidas em períodos de chuva e períodos de seca, uma vez que a precipitação tem a capacidade de aumentar o nível e a força do rio, movimentando o sedimento do fundo e, consequentemente, os metais e rejeitos ali decantados.
A Dra. Teresa Cristina Tarle Pissarra, professora do Departamento de Engenharia e Ciências Exatas da Unesp Jaboticabal, conta que o acordo prevê a publicação de aproximadamente 20 artigos apresentando análises da água e dos detritos. Até o momento, a equipe já desenvolveu cerca de 13 publicações, nos quais exploram diferentes características da qualidade da água, tanto superficial como subterrânea. “O que nós estamos fazendo é ciência de ponta-a-ponta porque pegamos dados, que são técnicos, e transformamos em resultados específicos sobre a qualidade da água após análises robustas”, contou a professora Teresa Pissarra, que é uma das coordenadoras do projeto.
Recuperação do rio é possível em uma década
Em 2021, com o início do projeto, um dos objetivos das pesquisas era fornecer uma estimativa de quando a qualidade da água do rio Paraopeba retornaria às condições pré-rompimento da barragem. Em artigo publicado na revista científica Science of The Total Environment um ano após o início das coletas e análises de dados, os pesquisadores chegaram à estimativa inicial de que essa recuperação levaria entre 7 e 11 anos.
Mas a professora Teresa Pissarra comentou que agora, com três anos de dados e pesquisas intensas, a intenção é encerrar o projeto com a publicação de um último artigo revendo os resultados encontrados. Quando questionada sobre a recuperação do rio, a pesquisadora é otimista. Ela acredita que ele voltará à condição de poder ser utilizado para consumo e recreação. Mas nunca voltará a ser o que era em 2019. “Por conta do ciclo hidrológico, a água é perpetuamente renovada por meio dos processos de precipitação, infiltração e deflúvio. Isso implica que a água do futuro jamais será igual a do passado. O rio, porém, voltará a apresentar condições compatíveis com o que está determinado pela legislação que monitora a qualidade dos recursos hídricos”, explicou pesquisadora.
Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.
Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp.
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