Destaque

Com tratamento adequado, água de rio afetado pela ruptura da barragem de Brumadinho poderia ser empregada para fins de abastecimento

Fonte

Jornal da Unesp

Data

domingo, 18 junho 2023 14:45

No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem do complexo da Mina Córrego Feijão, pertencente à mineradora Vale, rompeu-se e despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos na bacia do rio Paraopeba, em Minas Gerais. A avalanche de lama deixou 270 pessoas mortas, das quais 267 foram identificadas e três seguem desaparecidas, quatro anos depois. Desde então, um grupo interdisciplinar de pesquisadores busca entender quais foram os impactos do desastre sobre a qualidade da água e sedimentos da bacia do Paraopeba e a possibilidade de uma eventual recuperação.

A barragem, localizada no município de Brumadinho, a 54 km de Belo Horizonte, destinava-se a acumular os rejeitos oriundos de uma mina de minério de ferro no ribeirão Ferro-Carvão. Com o rompimento, foi liberado no ambiente o equivalente a aproximadamente 180 mil contêineres de metais, em forma de lama tóxica que contém elementos como ferro, manganês, alumínio, arsênio, chumbo e fósforo. No dia seguinte ao desastre social e ambiental, o Ibama multou a Vale em R$ 250 milhões. Quase dois anos depois, em fevereiro de 2021, a mineradora assinou um Termo de Compromisso de mais de R$ 37 bilhões  em indenizações pelos danos causados. Os valores e detalhes do termo foram acertados entre a Vale, o Governo de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública de Minas Gerais.

O acordo atribui à Vale a obrigação de recuperação ambiental e a execução de projetos socioeconômicos em Brumadinho e nos outros 25 municípios localizados na Bacia do Paraopeba que foram afetados. Um dos projetos desenvolvidos no âmbito desse acordo é o de proceder à pesquisa e ao monitoramento da qualidade da água e dos sedimentos no rio Paraopeba.

Desde 2021, esta tarefa vem sendo conduzida por uma equipe que compreende docentes da Unesp, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Portugal. Supervisionado pelo MP-MG e pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), o projeto tem como objetivo estimar o tempo necessário para que o rio Paraopeba retorne às condições prévias ao rompimento da barragem, além de compreender a dinâmica entre as chuvas, a vazão do rio e os rejeitos na qualidade da água.

Para realizar suas análises, o grupo de pesquisa recebe dados sobre a qualidade de sedimentos e da água periodicamente, retirados por funcionários do IGAM e da Vale em 32 pontos de coleta distribuídos ao longo do rio, a partir do local do rompimento da barragem. O grupo, então, organiza os resultados das análises e desenha uma visão holística da qualidade da água em diferentes pontos da bacia. Outro elemento metodológico relevante para as pesquisas é a diferenciação das análises conduzidas em períodos de chuva e períodos de seca, uma vez que a precipitação tem a capacidade de aumentar o nível e a força do rio, movimentando o sedimento do fundo e, consequentemente, os metais e rejeitos ali decantados.

A Dra. Teresa Cristina Tarle Pissarra, professora do Departamento de Engenharia e Ciências Exatas da Unesp Jaboticabal, conta que o acordo prevê a publicação de aproximadamente 20 artigos apresentando análises da água e dos detritos. Até o momento, a equipe já desenvolveu cerca de 13 publicações, nos quais exploram diferentes características da qualidade da água, tanto superficial como subterrânea. “O que nós estamos fazendo é ciência de ponta-a-ponta porque pegamos dados, que são técnicos, e transformamos em resultados específicos sobre a qualidade da água após análises robustas”, contou a professora Teresa Pissarra, que é uma das coordenadoras do projeto.

Recuperação do rio é possível em uma década

Em 2021, com o início do projeto, um dos objetivos das pesquisas era fornecer uma estimativa de quando a qualidade da água do rio Paraopeba retornaria às condições pré-rompimento da barragem. Em artigo publicado na revista científica Science of The Total Environment um ano após o início das coletas e análises de dados, os pesquisadores chegaram à estimativa inicial de que essa recuperação levaria entre 7 e 11 anos.

Mas a professora Teresa Pissarra comentou que agora, com três anos de dados e pesquisas intensas, a intenção é encerrar o projeto com a publicação de um último artigo revendo os resultados encontrados. Quando questionada sobre a recuperação do rio, a pesquisadora é otimista. Ela acredita que ele voltará à condição de poder ser utilizado para consumo e recreação. Mas nunca voltará a ser o que era em 2019. “Por conta do ciclo hidrológico, a água é perpetuamente renovada por meio dos processos de precipitação, infiltração e deflúvio. Isso implica que a água do futuro jamais será igual a do passado. O rio, porém, voltará a apresentar condições compatíveis com o que está determinado pela legislação que monitora a qualidade dos recursos hídricos”, explicou pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da Unesp.

Fonte: Malena Stariolo, Jornal da Unesp.

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