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Cientista social da UNILA destaca que tarefas de cuidado precisam ser tratadas como políticas públicas
O Brasil e outros países da América Latina avançam a passos largos para uma transição demográfica aguda, que traz consigo um sério problema: a queda dos provedores de cuidados. Culturalmente atribuído às mulheres, o cuidado, seja com a casa, crianças, idosos ou de saúde, precisa ser previsto em políticas públicas para que os países possam enfrentar o envelhecimento de sua população. Os sistemas de cuidados na América Latina, em especial, na Tríplice Fronteira, são temas de pesquisa da Dra. Silvia Lilian Ferro, cientista social e professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).
A transição demográfica tem entre suas características a queda nas taxas de fecundidade, natalidade e mortalidade e o consequente envelhecimento da população. “O Brasil, entre os países latino-americanos, é o que tem a maior queda na taxa de fecundidade. Já iniciou e está aprofundando um processo de envelhecimento da população, o que vai colocar uma demanda de cuidados enorme sobre o conjunto da população. Este é um problema de política pública, de Estado, não apenas sobre como homens e mulheres distribuem as responsabilidades de cuidado”, analisou a pesquisadora.
A pesquisadora enfatizou que é preciso deixar de olhar como uma tarefa feminina a prestação de cuidados. “As sociedades naturalizam a questão do cuidado como se fosse parte da natureza feminina cuidar dos outros. E invisibilizam o fato de que cuidar significa uma resignação do tempo pessoal, um gasto de energia, um investimento de tempo e uma grande personalização”, pontua. O cuidado, diz, precisa “ser reconhecido como um trabalho”.
Ao considerar feminina a tarefa de cuidar, disse a pesquisadora, e ao relacionar o cuidado ao afeto, a sociedade exime os homens dessa responsabilidade e, ao mesmo tempo, acaba por sobrecarregar ainda mais as mulheres. “Não há uma distribuição das tarefas de cuidado com os homens de maneira equitativa”, pontuou. O problema se torna mais grave quando analisada a participação do Estado em muitos países latino-americanos, incluindo o Brasil. “Em escala sistêmica, a organização social do cuidado – o Estado, a organização da sociedade civil e o sistema empresarial – é insuficiente.”
O conjunto da falta de uma infraestrutura adequada e a sobrecarga de tarefas femininas acaba por agravar a transição demográfica, disse a pesquisadora, porque leva muita mulheres a optar por não ter filhos ou adiar a maternidade. “Naturalizando o cuidado como se não fosse trabalho, vamos seguir entendendo a queda da natalidade como se fosse um fenômeno da natureza.”
Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal da Integração Latino-Americana.
Fonte: UNILA.
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