Destaque

Caça de subsistência molda e influencia relações sociais de comunidades tradicionais na Amazônia

Fonte

UFMS | Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Data

terça-feira, 12 março 2019 09:50

Em 340 mil hectares, com mais de 98% de cobertura florestal nativa ao redor, comunidades tradicionais ecoam na caça de subsistência relações sociais impactadas pela preservação da espécie. Essas interações preservadas no meio da mata são parte da pesquisa “Socioecologia da caça de subsistência em populações tradicionais no sudoeste da Amazônia”, tese de doutorado defendida pelo pesquisador Dr. André Valle Nunes no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação (PPGEC-UFMS).

A pesquisa foi realizada na Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade, no Acre, próximo ao Peru, com objetivo de avaliar o contexto social da caça de subsistência nas populações tradicionais ribeirinhas. “A atividade da caça não é somente para alimentação, aquisição de proteína, também pode moldar as relações sociais entre as famílias da comunidade por meio da doação de carne. Para eles, a comunidade é o todo”, explica o pesquisador.

A doação de carne de caça, não só na Amazônia, mas na América do Sul e em outras regiões do mundo, é mais relatada para populações indígenas. “Estamos mostrando que ocorre em populações não indígenas também na Amazônia. Essa documentação sobre os ribeirinhos é muito importante”, aponta o pesquisador.

Caça na mata

Os ribeirinhos têm na caça de animais silvestres – legalmente autorizada – a principal fonte de proteína animal para consumo, além do pescado. Criações de galinhas e porcos são destinadas às datas especiais como aniversários, casamentos, torneios de futebol.

Em dias alternados ou quando necessário, os caçadores entram na mata em busca da carne a servir à mesa. Mas seriam os frutos da caça destinados apenas à família? Relações de parentesco seriam importante no compartilhamento da carne?

A resposta alcançada pelo pesquisador não está em nenhuma relação de parentesco, mas na biomassa da espécie caçada. “Se chegam com animais grandes, maiores, conseguem partilhar para mais pessoas da comunidade. Isso difere um pouco das populações caçadoras e coletoras da África, onde as comunidades têm tendência de doar para as pessoas mais próximas”, aponta o Dr. André.

E doar também ajuda a questão de segurança alimentar. “Se tem uma família que no dia o caçador não teve sucesso, que está sem proteína em casa, receber um pedaço de carne favorece sua segurança alimentar; então a rede de doações favorece a segurança de toda a comunidade”, completa. Da mesma forma, esse compartilhamento pode diminuir a pressão de caça, visto que ao doar para várias famílias – e cada uma tem o seu caçador – são menos homens em ação na mata. Paca, cutia, veado, caititu (porquinho) e algumas espécies de macaco, como o prego, estão entre os animais de médio e grande porte mais abatidos.

Um calendário de caça foi produzido pelo pesquisador para a coleta de dados, onde os caçadores marcavam os animais caçados na mata ao longo do período de estudo. O pesquisador instalou ainda GPS nas espingardas dos caçadores para mapear as áreas de caça e analisou os atributos sociais, idade dos caçadores, tamanho das famílias, a renda com o roçado de mandioca para saber quais influenciariam na distância percorrida por eles na mata.

“A proposta foi tentar entender se a caça acabar, se houver um colapso, será que essas populações, que moram na Amazônia acreana (brasileira), peruana e boliviana, conseguiriam consumir proteína animal com o que ganham”, questionou o pesquisador.

Para essa análise, foram utilizados o salário da região, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Nacional de Estadística (INE), do Peru e da Bolívia, a renda anual com a produção de farinha e com a venda da produção de castanha-do-Pará.

Acesse a notícia completa na página da UFMS.

Fonte: Paula Pimenta, UFMS. Imagem: André Valle Nunes, UFMS.

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