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Agroecologia: trajetória de agricultora dialoga com avanços e limitações da emancipação feminina

Fonte

Jornal da Unicamp

Data

segunda-feira, 19 novembro 2018 11:40

As mãos firmes de Maria Ileide Teixeira não negam: o trabalho no campo é árduo. Agricultora que lida com o processo produtivo do plantio, da colheita à comercialização, a trabalhadora é enfática ao revelar o diferencial em sua produção: “a presença de gente”. O fator humano não é relevante à toa: integra os ideais de Ileide, adepta da agroecologia, técnica que a agricultora vem adotando para a subsistência de sua família e para geração de renda nos últimos anos.

A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica no Brasil, efetivada em 2012, por meio do Decreto nº 7.794, propõe que, mais que considerar a agroecologia uma técnica, é preciso pensá-la como um tipo de produção que leva em conta as condições de trabalho e os impactos gerados no ambiente. Com a redemocratização nos anos 1980, demandas e iniciativas da sociedade civil organizada ganharam espaço para a busca pela formulação e gestão de uma política voltada à promoção do desenvolvimento rural sustentável, culminando na retomada de práticas agroecológicas e sua consequente sistematização nas últimas décadas.

Para a engenheira agrônoma Emma Siliprandi, representante da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a valorização da agroecologia tem a ver com um contexto de luta pelo direito à terra e ao trabalho, e também com debates acerca de saúde, impactos ambientais e segurança alimentar suscitados principalmente na segunda metade do século XX em todo o mundo.

A prática agroecológica foi aos poucos sendo retomada, especialmente por ser um tipo de produção praticada há séculos, que promove o resgate de técnicas pré-industriais menos agressivas aos ecossistemas, por meio principalmente da agricultura familiar.

Hoje, alinhando-se ao moderno conhecimento científico de análise das águas e do solo, assim como dos hábitos e necessidades da fauna local, a agroecologia surge como uma alternativa para o uso intensivo de certos recursos naturais, agrotóxicos e transgênicos, e também para a concentração de vida e trabalho em centros urbanos.

No Brasil, a pauta agroecológica ganha cena especialmente junto às demandas de trabalhadoras rurais, como diagnostica Emma, em seu livro Mulheres e agroecologia: transformando o campo, as florestas e as pessoas, publicado em 2015. Para a engenheira agrônoma, essas mulheres “se investem da condição de defensoras  de  um  modelo produtivo centrado na produção de alimentos e sustentável ambientalmente, em função de que essas sempre foram tarefas suas na divisão do trabalho. Mas avançam para o questionamento  sobre  as  multinacionais  do  setor,  posicionando-se  quanto  aos  problemas gerados  pela  monopolização  das  sementes,  o  uso  da  terra  para  outros  produtos  que  não  os alimentos,  os  agrotóxicos,  a  alimentação  industrializada”.  

Já era possível notar articulações de grupos de mulheres colocando em pauta a questão ambiental e a soberania alimentar antes mesmo dessas movimentações recentes, como no caso das quebradeiras de coco, que se uniram no Norte e no Nordeste do país por políticas de preservação dos babaçuais e pelos direitos coletivos de uso das palmeiras.

Mas a institucionalização dessas lutas se deu principalmente com a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), junto ao fortalecimento dos sindicatos e de entidades populares locais, como as Comunidades Eclesiais de Base nos anos 1980, que levantaram pautas acerca da importância do trabalho no campo e do direito de mulheres enquanto trabalhadoras, contribuindo com o fortalecimento de movimentos sociais encabeçados por mulheres em todo o país.

Isso levou, por exemplo, à inclusão de salário maternidade para a trabalhadora rural, entre outras garantias, na Constituição de 1988. Toda essa transformação culminou na Marcha das Margaridas, que desde 2000 se apresenta como um espaço, a cada quatro anos, para diálogos e proposições acerca de demandas principalmente da vida de mulheres no campo, como um resultado e também um próprio catalisador de debates sobre sustentabilidade e também agroecologia.

Acesse a notícia completa no site do Jornal da Unicamp.

Fonte: Francielly Baliana, LABJOR – Unicamp. Imagem: Antonio Scarpinetti.

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