Notícia
Moratória da soja precisa ser estendida para o Cerrado, defendem pesquisadores
Medida permitiria evitar a perda de 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa que correm o risco de serem convertidos em lavouras do grão até 2050, estimam autores de estudo publicado na Science Advances
Divulgação
Fonte
Agência FAPESP
Data
quinta-feira, 18 julho 2019 12:35
Áreas
Agricultura, Agropecuária, Gestão Ambiental, Monitoramento Ambiental.
A implementação, em 2006, de um acordo entre a sociedade civil, agroindústrias e o governo para coibir a comercialização da soja proveniente de áreas desmatadas na Amazônia brasileira permitiu deter a expansão da produção da commodity naquele bioma sobre a floresta. Em contrapartida, o problema foi transferido para o Cerrado, onde a conversão de vegetação nativa em plantações do grão tem aumentado muito nos últimos anos, apontam especialistas.
Uma das medidas que poderiam contribuir para solucionar essa questão seria estender também para o Cerrado o pacto de desmatamento zero na Amazônia conhecido como a moratória da soja, sugerem pesquisadores do Brasil, da Áustria, França, Bélgica e dos Estados Unidos em estudo publicado nesta quarta-feira (17/07) na revista científica Science Advances.
Se entrasse em vigor em 2021, a iniciativa permitiria evitar a perda de 3,6 milhões de hectares de vegetação nativa que correm o risco de serem convertidos para produção da soja até 2050, calcula o estudo.
Alguns dos resultados do trabalho foram apresentados durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada em Cenários e Modelagem em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, que aconteceu entre os dias 1º e 14 de julho em São Pedro, no interior de São Paulo. Realizado com apoio da FAPESP, por meio do programa Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), o evento reuniu 87 alunos, de 20 países.
“Descontando vazamentos – o aumento de perda de vegetação nativa para outras atividades agrícolas devido à expansão da cultura da soja sobre áreas já desmatadas –, estimamos que a extensão da moratória da soja para o Cerrado pouparia 2,3 milhões de hectares de vegetação nativa do bioma”, disse Aline Cristina Soterroni, pesquisadora brasileira do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicada (IIASA), na Áustria, e primeira autora do estudo, à Agência FAPESP.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 50% da soja produzida atualmente no Brasil é proveniente do Cerrado. Quase um quarto da área de cultivo da oleaginosa no bioma está situado no Matopiba – uma região que abrange porções dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, onde alguns dos últimos remanescentes intactos do Cerrado estão localizados. A produção de soja nessa região aumentou 253% entre 2000 e 2014.
Uma vez que a produção brasileira do grão deve continuar a crescer nas próximas décadas para atender a demanda de países como a China, o Cerrado continuará sendo a região onde ocorrerá a maior parte dessa expansão, estimam os pesquisadores.
“O Cerrado é o lugar onde a agricultura brasileira acontece. E, apesar de ser um hotspot de biodiversidade e abranger algumas das maiores bacias hidrográficas do país, corre o risco de desaparecer porque tem recebido menor atenção e é menos protegido do que a Amazônia. Além disso, suas áreas de vegetação remanescentes têm sido convertidas em lavouras ou pastagens mais rapidamente”, disse Soterroni.
“Quando o ambiente de governança é fraco e a vontade política é baixa, como temos observado no Cerrado, políticas surgidas por iniciativa do setor privado para combater o desmatamento e a conversão de vegetação nativa em áreas de pastagem ou lavoura, como a extensão da moratória da soja para o bioma, são fundamentais”, disse.
O Artigo
O artigo Expanding the soy moratorium to Brazil’s cerrado, de Aline C. Soterroni, Fernando M. Ramos, Aline Mosnier, Joseph Fargione, Pedro R. Andrade, Leandro Baumgarten, Johannes Pirker, Michael Obersteiner, Florian Kraxner, Gilberto Câmara, Alexandre X. Y. Carvalho e Stephen Polasky, pode ser lido na revista Science Advancesem https://advances.sciencemag.org/content/5/7/eaav7336.
Acesse a notícia completa completa na página Agência FAPESP.
Fonte: Elton Alisson, Agência FAPESP. Imagem: Aline Cristina Soterroni – divulgação.
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