Notícia
Professora da Universidade Harvard mostra como queda de recursos afeta saúde pública no Brasil
De acordo com a pesquisadora, o país corre o risco de retornar a índices de saúde pública anteriores aos da criação da cobertura universal pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
Pixabay
Fonte
UFPR | Universidade Federal do Paraná
Data
segunda-feira, 23 julho 2018 17:50
Áreas
Saneamento, Saúde, Sociedade.
O retorno de doenças que estavam eliminadas, o aumento da mortalidade infantil e da desnutrição, assim como a sobrecarga financeira para os municípios, são alguns dos problemas resultantes do corte de recursos da União para o sistema de saúde brasileiro, segundo a professora e pesquisadora Marcia Castro, da T. H. Chan School of Public Health da Universidade Harvard. Em painel organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD), Marcia apresentou na UFPR, um panorama dos desafios e perspectivas para a saúde do país. Apesar de apontar pontos altos, como a resposta rápida do País às recentes epidemias de zica, dengue e chicungunha, Marcia avalia que o quadro já se mostra de “retrocesso profundo”.
De acordo com a pesquisadora, que tem formação em Estatística, o país corre o risco de retornar a índices de saúde pública anteriores aos da criação da cobertura universal pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que ocorreu com a Constituição de 1988. “Vamos perder décadas de ganhos e levar décadas para voltar ao que tínhamos”, acredita. “[Alguns desses indicadores] deveriam fazer parte apenas da história da saúde pública no Brasil”.
A mortalidade de crianças de até um ano subiu pela primeira vez em 26 anos em 2016 e, segundo o Ministério da Saúde, a tendência é que a taxa de 2017 mostre mais crescimento. De acordo com Márcia, a epidemia de zica teve efeitos sobre esse dado, mas a falta de recursos para a saúde é a principal explicação. “Voltamos a ter crianças morrendo de diarreia, que era uma notícia comum nos anos 80”, disse.
O recuo da cobertura vacinal, que era um dos aspectos em que o Brasil se destacava no mundo, também gera dados preocupantes. O país chegou a ter uma das maiores taxas de cobertura do mundo — chegava a mais de 95%. Dados recentes apontam que um a cada 4 municípios tem cobertura abaixo do ideal nas vacinas obrigatórias para bebês e crianças. A queda na vacinação tem impacto em doenças que se consideravam eliminadas, como o sarampo e a pólio. “Quanto ao sarampo, já houve mortes de crianças em aldeias ianomâmis”.
Desigualdade
Para Marcia, atualmente o Brasil enfrenta a “carga tripla de doenças”, o que significa desafios a serem vencidos entre as doenças infecciosas, as crônicas e a violência — que também onera e prejudica o funcionamento do sistema de saúde. “O modelo brasileiro é o que chamamos de modelo de transição prolongado e polarizado. Ou seja, demora a responder a estímulos e gera desigualdade”, afirmou.
A pesquisadora salientou que municípios pequenos são os que mais são atingidos com a sobrecarga financeira gerada pela ausência da União. Como registrou Marcia, municípios muito pequenos podem sair da cobertura total do SUS para zero cobertura com a ausência de uma única equipe de profissionais de saúde. “A desigualdade é muito grande”, comentou. “Quem acaba sofrendo com a piora dos indicadores é quem já tem os piores indicadores”.
Por conta disso, a pesquisadora avalia que medidas de austeridade — em especial a Emenda Constitucional 95/2016, a PEC do Teto — têm consequências “desastrosas”. “Quando uma norma determina o congelamento de gastos, geralmente é na parte social que se corta”, analisou.
Nesse contexto, Marcia avalia que o papel dos cientistas é o de denunciar tendências e “reacender a luz no fim do túnel”. “Omitir-se não é opção”, complementa a pesquisadora.
Acesse a notícia completa no site da UFPR.
Fonte: Camile Bropp, Universidade Federal do Paraná. Imagem:
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