Notícia

Coloração dos rios na Amazônia pode estar ligada à incidência de malária

Resultados ajudam a identificar os locais com maior risco de transmissão de malária, o que pode contribuir para um planejamento mais preciso de ações voltadas ao controle da doença na região

Leandro Amazonas Manauara via Wikimedia Commons

Fonte

Fiocruz | Fundação Oswaldo Cruz

Data

domingo, 10 dezembro 2023 16:40

Áreas

Biologia. Ciência Ambiental. Epidemiologia. Geografia. Hidrologia. Microbiologia. Monitoramento Ambiental. Recursos Hídricos. Saúde.

A Fiocruz Amazônia, em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento, realizou um estudo com abordagem inédita na avaliação da relação entre coloração de rios com a incidência da malária.

Segundo a pesquisa, observou-se uma relação entre os dois fatores, razão pela qual, em situações extremas, as localidades próximas aos rios de coloração preta apresentam maior incidência de malária, quando comparados aos chamados rios de águas brancas, que possuem cores turvas e barrentas, como é o caso do Solimões, Amazonas, Madeira e Juruá. Os resultados do trabalho, publicados na revista científica Malaria Journal, apontam que as águas dos rios de cor escura, a exemplo do Rio Negro, por carregarem menos sedimentos e serem mais ácidas, podem favorecer a proliferação do mosquito Anopheles darlingi, transmissor da doença.

Liderado pela pesquisadora Dra. Fernanda Fonseca, vice-chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia da Fiocruz Amazônia, o trabalho é também de autoria dos pesquisadores em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia Dr. Jesem Orellana e Dr. Antônio Balieiro; Dr. Naziano Filizola, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); do Dr. Jean-Michel Martinez, pesquisador do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento; e do Dr. James Dean Santos, professor da UFAM.

Os resultados, segundo os autores, ajudam a identificar os locais com maior risco de transmissão de malária, o que pode contribuir para um planejamento mais preciso de ações voltadas ao controle da doença na região. De acordo com a Dra. Fernanda Fonseca, a pesquisa foi realizada em uma região com características hidrográficas heterogêneas o suficiente para permitir uma análise que contrastasse as diferentes cores dos rios e abrangendo o estado do Amazonas, em quase sua totalidade.

As análises incorporam dados de 50 dos 62 municípios do estado do Amazonas e foram efetuadas a partir de imagens de satélite do aplicativo Google Earth, de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), da base de dados do Observatório do Ambiente, Pesquisa em Hidrologia e Geodinâmica da bacia Amazônica e do Sistema de Vigilância Epidemiológica de Malária (Sivep-Malária), do Ministério da Saúde.

“No Brasil, a malária está concentrada na região amazônica e os rios desempenham um papel importante no ciclo de vida da doença, uma vez que o vetor se reproduz em ambientes aquáticos”, apontaram os pesquisadores no resumo da pesquisa. As águas dos rios da Amazônia possuem diferentes características químicas, devido principalmente à geologia da região, ao tipo de vegetação, à presença de organismos em decomposição e ao clima. A pesquisa analisou os dados de incidência de malária, entre os anos 2003 a 2019, de 50 municípios do Estado do Amazonas localizados às margens de rios de água preta, branca e mista (preta e branca), com uma probabilidade de 99%; “Nesse contexto, o estudo propôs realizar uma abordagem baseada em hipóteses que correlacionaram as cores das águas e a incidência da doença, a fim de determinar se as características do tipo de cor da água influenciam na distribuição da doença”, explicou a Dra. Fernanda.

A pesquisadora ressaltou que, apesar dos avanços dos últimos anos na eliminação da doença, em 2021, países como Venezuela, Brasil e Colômbia foram responsáveis por quase 80% dos casos na região das Américas. “A situação epidemiológica continua preocupante e desafios como ter dados confiáveis sobre a incidência e distribuição da doença, bem como estratégias adaptadas localmente para melhorar o diagnóstico precoce ou o acesso oportuno ao tratamento, continuam sendo desafios importantes, especialmente em grupos e regiões vulneráveis”, afirmou a pesquisadora, citando como exemplos os povos indígenas que vivem em áreas remotas e degradadas, geralmente de difícil acesso ou insuficientemente alcançadas pelos serviços de saúde, como o que se observa em áreas de exploração madeireira ilegal e extração mineral na Amazônia.

O estudo revelou que, comparando os valores mais baixos do indicador de incidência de malária (IPA) entre as três cores de água avaliadas, os níveis médios dos rios de águas pretas foram substancialmente superiores aos outros dois, uma vez que a probabilidade de incidência da malária é maior nos rios de águas pretas, em comparação aos rios de águas brancas e de águas mistas, ficou próximo de 99%, em ambas as comparações.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Fiocruz.

Fonte: Júlio Pedrosa, Fiocruz Amazônia. Imagem: encontro das águas. Fonte: Leandro Amazonas Manauara via Wikimedia Commons.

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