Notícia

Ondas de calor no Hemisfério Norte mostram impacto das mudanças climáticas na saúde

Especialistas chamam a atenção para o termo ‘injustiça climática’, que evidencia que a população mais pobre e periférica é a mais vulnerável a condições climáticas extremas

evening_tao via Freepik

Fonte

Jornal da USP

Data

terça-feira, 22 agosto 2023 11:15

Áreas

Aquecimento Global. Ciência Ambiental. Clima. Mudanças Climáticas. Saúde. Sociedade. Sustentabilidade.

O impacto das mudanças climáticas já é uma realidade e seus efeitos têm se intensificado cada vez mais. O mês de julho evidenciou esse processo muito claramente a partir da onda de calor que atingiu uma série de países em três continentes: Europa, Ásia e América do Norte.

De acordo com o observatório europeu Copernicus, julho foi o mês mais quente já registrado na história do planeta, ao superar o último recorde mundial de 2019 em 0,33ºC. Com essa intensificação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o mundo ultrapassou o nível de aquecimento, atingindo o estado de ‘ebulição global’.

“A atmosfera terrestre está ficando com uma quantidade maior de energia e uma das maneiras do sistema climático dissipar essa energia é através do aumento de eventos climáticos extremos”, esclareceu o Dr. Paulo Artaxo, professor do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP).

Esse episódio impactou não somente a natureza, mas também afetou seriamente a saúde da população dessas regiões com temperaturas acima dos 30ºC. O Dr. Paulo Saldiva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), explicou que pensar a mudança climática juntamente com a saúde pode favorecer a mudança de comportamentos.

Além disso, nota-se um impacto desigual na saúde e vivência da sociedade, uma vez que a população mais pobre e periférica está mais vulnerável às mudanças climáticas. A Dra. Helena Ribeiro, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), chama o fenômeno de ‘injustiça climática’.

Reação biológica

A zona de conforto e preparo térmico varia de acordo com cada país e cada região dentro do país. O professor Saldiva situa cada uma dessas populações em uma escala de temperatura ideal e extremos de quente e frio – os quais ocasionam um aumento da mortalidade –, além da capacidade de adaptação de cada país. “Nova York, por exemplo, está mais preparada para o frio do que para o calor. Existe também um processo de aclimatização dentro do mesmo país; em São Paulo, o desconforto térmico começa quando a temperatura sobe de 26 graus, que é a zona de perfeito conforto para Teresina”, exemplificou o professor.

No momento em que as condições climáticas extrapolam a predisposição do ser humano de se adaptar, o organismo passa a reagir e adoecer. Diferentemente do senso comum, o professor Paulo Saldiva ressaltou que hipotermia e hipertermia não resumem nem predominam as causas de morte diante de temperaturas extremas, mas representam a absoluta minoria.

Na maior parte dos casos, os pacientes falecem por causas naturais desencadeadas por uma diversidade de complicações na saúde. Por exemplo, quadros de insuficiência renal ou infecção urinária provocados pela desidratação, assim como consequências cardíacas ocasionadas pela vasodilatação intensa e sobrecarga do coração. Assim, a professora Helena Ribeiro aponta idosos, crianças e mulheres grávidas como os mais vulneráveis, além de pessoas que já apresentam comorbidades crônicas na saúde. “Em termos sociais, frequentemente pessoas de menor renda são as mais afetadas, pois moram em áreas de maior risco de enchentes e deslizamentos, mais poluídas e com menor arborização urbana”, destacou a pesquisadora.

Previsões brasileiras

Por se tratar de um país tropical e já se situar nos limites de temperaturas, o professor Paulo Artaxo comentou que o Brasil se torna ainda mais frágil às mudanças climáticas. Em regiões como Teresina, em que já se observam temperaturas de 40ºC durante o verão, são previstas altas até 48ºC e consequências graves para a saúde da população, de acordo com o pesquisador.

A professora Helena Ribeiro revelou que o Brasil possui maior sensibilidade a ondas de frio do que calor, tendo em vista que, diferentemente do clima mediterrâneo do sul da Europa e oeste do Estados Unidos, o clima tropical do País possui verões chuvosos que atenuam o fenômeno. Além disso, existem algumas adaptações culturais, como vestimentas leves e frequência de banhos.

Todavia, a professora ressaltou a pouca infraestrutura ainda enfrentada pelo sistema de saúde para oferecer ambientes climatizados tanto para os profissionais da área quanto para os pacientes. “O sistema brasileiro já é bastante sobrecarregado e se houver um agravamento de ondas de calor, será necessário fazer uma formação de pessoal da saúde”, destacou a Dra.  Helena Ribeiro.

Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.

Fonte: Raquel Tiemi e Paulo Capuzzo, Jornal da USP no Ar. Imagem: evening_tao via Freepik.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2025 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account