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Pesquisadores avaliam o efeito de antibióticos em animais para produção de biogás
Pesquisas que avaliam materiais oriundos de resíduos agroindustriais para a produção de biocombustíveis fazem parte do grupo de estudos da Dra. Priscila Vaz de Arruda, professora do Campus Toledo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Recentemente, resultados relacionados ao uso de antibióticos e a produção do biogás estão em um artigo publicado na revista científica Environmental Technology.
Entre setembro de 2021 e maio de 2022, experimentos coordenados pela professora Priscila e pelo professor Gustavo Ramos, atualmente no Instituto Federal de Goiás (IFG de Goiânia), foram realizados no Laboratório de Fermentações do Campus, observando a influência da concentração de antibiótico em experimentos para a obtenção de biogás a partir de dejetos suínos.
Segundo os pesquisadores, na suinocultura, antibióticos são frequentemente usados para reduzir doenças e promover o crescimento animal. “Parte desses compostos não é absorvida pelo organismo suíno, sendo excretada e posteriormente chegando aos sistemas de tratamento, solo e corpos d’água próximos”, explicaram os pesquisadores.
A pesquisa buscou investigar a influência da adição do antibiótico ciprofloxacina (CIP) na digestão anaeróbia de águas residuárias de suínos. Para isso, foi realizada uma parceria com a empresa Biotecnal, a qual disponibilizou dejetos suínos provenientes de uma granja experimental que nunca havia utilizado qualquer composto antibiótico em seus animais.
“Desde 2017 estamos verificando os potenciais de diferentes matérias primas, resíduos orgânicos, subprodutos da agroindústria objetivando a obtenção de bioprodutos, não só biocombustíveis, como foi o caso deste artigo que foi publicado, mas também produtos de valor agregado como a celulose bacteriana e mais recentemente estamos trabalhando com obtenção de bioaromas e biopigmentos. De forma geral, o objetivo das pesquisas é sempre agregar valor a materiais que são subaproveitados ou são problemáticos para as empresas e dar um destino mais ‘amigável’ “, destacaram os pesquisadores.
A ciprofloxacina foi escolhida pois não havia, até o momento, pesquisas com este composto/efluente em reatores de batelada sequencial. Durante 155 dias de experimento em um reator de 5 litros, foram testadas duas dosagens do antibiótico (0,5 e 2,5 mg/L). Também foram coletadas amostras de lodo para a definição dos microrganismos presentes, possibilitando averiguar quais pereceram e quais se sobressaíram após as dosagens.
Como resultado, foi observado que a adição de 0,5 mg/L de ciprofloxacina causou redução abrupta (82%) na produção de biogás nos primeiros dias, mas o sistema foi capaz de se recuperar, com produção similar à da fase anterior, sem antibiótico. Para dosagens de 2,5 mg/L, também houve instabilidade nos primeiros dias seguida de recuperação; no entanto, ao atingir a estabilidade, a produção de biogás verificada foi de cerca de 12% menor do que as etapas anteriores.
“Se pensarmos na utilização do biogás como fonte de energia, inserida na rede ou para uso da própria propriedade agropecuária, 12% de redução pode ser um valor bastante significativo, apesar da concentração de antibiótico empregada ser bastante elevada”, afirmou o pesquisador Gustavo Ramos, que é egresso dos cursos de bacharelado e de mestrado em Engenharia Civil da UTFPR e atuava como professor temporário no campus Toledo na época da pesquisa.
Outra questão levantada pela professora Priscila é o uso, em longo prazo, de antibióticos na suinocultura e que podem resultar no alastramento da resistência antimicrobiana. “Isso é preocupante e merece estudos nessa área também. Acredito que são necessárias estratégias de boas práticas de produção que reduzam a necessidade do uso de antimicrobianos, ou seja, saúde e bem-estar dos animais, e também com o tratamento dos resíduos da produção, dejetos e animais mortos, para que se permita a degradação das moléculas e um menor impacto ambiental”, completa a pesquisadora.
Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).
Acesse a notícia completa na página da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Fonte: UTFPR.
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