Notícia

Estudo revela níveis preocupantes de degradação dos rios em todo o mundo

Estudo reuniu dezenas de pesquisadores de todo o mundo e visou analisar o estado biológico dos rios

Dra. Maria João Feio et al., Global Change Biology

Fonte

UC | Universidade de Coimbra

Data

quinta-feira, 3 novembro 2022 06:05

Áreas

Biologia. Ciência Ambiental. Ecologia. Hidrologia. Monitoramento Ambiental. Recursos Naturais. Saúde Ambiental.

Um estudo internacional publicado na revista científica Global Change Biology mostra preocupantes níveis de degradação dos rios em todo o mundo.

Liderado pela Dra. Maria João Feio, pesquisadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC) da Universidade de Coimbra, em Portugal, o estudo reuniu três dezenas de pesquisadores de todo o mundo e visou analisar o estado biológico dos rios, da forma mais ampla possível e com base em dois bioindicadores usados na monitorização dos rios – os macroinvertebrados bentônicos e os peixes.

Assim, foram analisados conjuntamente resultados de programas de monitorização de 45 países (64 regiões de estudo) de todos os continentes e, em particular, um grande número de áreas de países pertencentes ao designado Sul Global (Global South), “que têm as maiores reservas de biodiversidade de águas doces do mundo, mas que têm sido menos estudadas ou cujos dados não são conhecidos”, indicou a Dra. Maria João Feio, esclarecendo que entre esses países estão a “China, Nepal, Nigéria, Brasil, África do Sul, Vietnam e Camboja”.

A pesquisa contém também dados de áreas consideradas hotspots de biodiversidade, como é o caso da Amazônia, e de países como o Japão ou a Coreia do Sul, que até agora não estavam acessíveis à comunidade internacional. Os cientistas analisaram igualmente a influência do desenvolvimento humano e alterações antropogênicas sobre a qualidade biológica dos rios, “o que é essencial para perceber que medidas devem ser implementadas a nível global”, defendeu a pesquisadora do MARE/FCTUC.

Os resultados do estudo mostram “preocupantes níveis de degradação nos ecossistemas ribeirinhos, com menos de metade dos troços estudados em boa qualidade biológica (42 a 50%, dependendo do elemento biológico – peixe ou invertebrados) e cerca de 30% severamente degradados. As piores condições foram encontradas em climas áridos e equatoriais”, destacou a Dra. Maria João Feio.

A cientista sublinhou ainda que, dos fatores estudados, os que mais influenciam negativamente os rios são a “má qualidade físico-química da água (uma realidade especialmente na África, na Ásia e na América do Sul), o fato de existirem menos áreas protegidas para rios e um maior nível de desenvolvimento humano, que se pode traduzir numa maior história de alterações no uso do solo por agricultura, indústria e urbanização”.

Em oposição, o aumento da área de floresta e a melhor qualidade da água são fatores que estão associados à “melhor qualidade biológica dos rios”. No que diz respeito a países em desenvolvimento, estes apresentam “as maiores percentagens de locais moderadamente impactados, o que pode indicar uma tendência recente para a degradação dos mesmos”, prosseguiu a pesquisadora.

O estudo revelou que as comunidades de peixes se encontram em piores condições em relação às dos invertebrados. Por exemplo, “na grande bacia australiana de Murray-Darling, 56% dos locais estão severamente alterados, o que pode ser devido ao efeito das quatro mil barreiras à deslocação dos mesmos ao longo do rio, como as barragens ou açudes. Estas encontram-se amplamente espalhadas pelos rios do Mundo, dado que cerca de 63% dos grandes rios já não correm livremente”, explicou a pesquisadora, notando que “isto é particularmente relevante quando se sabe que está sendo planejado um grande número de novos aproveitamentos hidráulicos para a América do Sul e Ásia”.

Em um comentário global às conclusões do estudo, a Dra. Maria João Feio entende que refletem a “perda de biodiversidade das águas doces, bem como a alteração nos padrões de distribuição das espécies, nomeadamente com o crescente aumento de espécies invasoras. Tudo isto altera o funcionamento dos ecossistemas ribeirinhos, levando à perda de serviços fornecidos por estes ecossistemas às populações (desde o fornecimento de água à regulação climática ou à prevenção de doenças)”.

Por isso, concluiu a especialista, é essencial continuar a monitorar os rios em todo o mundo, “desde aqueles onde nunca se fez nada até outros que viram os seus programas serem suspensos. Além disso, é essencial planejar medidas de recuperação e o nosso estudo mostra que estabelecer áreas protegidas para rios ou melhorar as florestas são soluções eficientes”.

Do Brasil, participaram do estudo o Dr. Marcos Callisto, o Dr. Diego Rodrigues MacedoCarlos Mascarenhas Alves, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Dr. Renato Tavares Martins, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Dr. Paulo dos Santos Pompeu, da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Coimbra.

Fonte: Cristina Pinto, FCTUC/Universidade de Coimbra. Imagem: Porcentagem de locais em condições: Boa (verde), Prejudicada (amarelo) e Severamente Prejudicada (vermelho), com base em macroinvertebrados bentônicos e peixes por grandes regiões. As linhas do mapa delineiam as áreas de estudo e não representam necessariamente as fronteiras nacionais aceitas. Fonte: Dra. Maria João Feio et al., Global Change Biology.

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