Notícia

Floculante à base de taninos de cascas de cajueiro mostra ótimo desempenho na remoção de turbidez da água

Pesquisadores da UFRN destacam que os coagulantes naturais são uma alternativa para o tratamento da água bruta, com inúmeras vantagens em comparação aos coagulantes químicos

Divulgação, UFRN

Fonte

UFRN | Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Data

segunda-feira, 11 abril 2022 10:05

Áreas

Biotecnologia. Qualidade da Água. Química Verde. Saneamento.

A floculação – ou seu sinônimo coagulação – é uma das etapas do tratamento de água em que se adicionam substâncias para a formação de flocos (sólidos de tamanho maior) que carregam as partículas de sujidades. Exemplos de aplicação são o problema da água turva que acontece recorrentemente em piscinas ou o aspecto barrento que a água das represas e rios apresentam. Em ambos casos, ocorre um acúmulo de partículas com diâmetro pequeno, entre um e mil nanômetros, que provoca essa aparência. Por causa do seu peso minúsculo, essas partículas ficam dispersas por toda a extensão da água, o que impede a sua remoção e, no limite, também o uso.

Para resolver a situação, um caminho eficaz é, justamente, utilizar coagulantes, substâncias que através de processos químicos e físicos, atuam como um ligante para estas partículas de sujidades minúsculas. Com essa ação, as partículas se juntam e acabam formando blocos maiores, tornando-se, assim, passíveis de filtragem.

Recentemente, um grupo de cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) apresentou um novo coagulante, que de acordo com os testes feitos e a eficiência comprovada, “se mostra melhor do que qualquer outro produto existente hoje no mercado”, disse a professora Dra. Tatiane Kelly Barbosa de Azevêdo, uma das inventoras envolvidas no desenvolvimento do novo produto.

A nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da UFRN está intimamente ligada a esse panorama e pode ser utilizada como fator de desenvolvimento regional, haja vista sua ‘matéria-prima’. O coagulante criadona UFRN é feito de um extrativo vegetal do cajueiro, chamado tanino, modificado quimicamente. Esse tanino, cujo nome científico é Anacardium occidentale L., é extraído da casca do cajueiro, espécie nativa da Caatinga encontrada em abundância na região Nordeste – onde está mais de 98% da área de plantio de cajueiros do país.

Por isso, apesar de outras fontes de taninos vegetais estarem presentes no Brasil e na região  Nordeste, nenhuma delas iguala o cajueiro em área de plantio e disponibilidade anual de  resíduos de poda e renovação de cajuais, ‘sobras’ que usualmente são vendidas como lenha de baixa categoria para uso, principalmente, em cerâmicas e agroindústrias. A funcionalidade que surge a partir dessa nova tecnologia pode ser mais uma fonte de renda para produtores.

A professora Tatiane Azevêdo explicou que o passo inicial é extrair os taninos da casca do cajueiro. Em seguida, ocorre a modificação química desses taninos, o que propicia o seu emprego como floculante para a clarificação de água. “O floculante pode ser obtido a partir de resíduos de poda e de renovação de cajueiros, o que evidencia a característica de ser um produto de origem renovável, eficiente na remoção da turbidez da água e não agressivo ao meio ambiente em nenhuma das etapas de sua produção e utilização”, destacou a professora da Escola Agrícola de Jundiaí.

A professora idealizou a pesquisa que rendeu como fruto a invenção, objeto de um depósito de pedido de patente denominado ‘Floculante à base de taninos da casca de cajueiro (Anacardium Occidentale) e seu processo de obtenção’. Na iniciativa, a professora contou com a contribuição de Bruna Ferreira dos Anjos, orientanda no mestrado, Dra. Renata Martins Braga e Dr. Alexandre Santos Pimenta, professores que deram suporte na caracterização química.

Os pesquisadores frisam que os coagulantes naturais são uma alternativa para o tratamento da água bruta, pois possuem inúmeras vantagens em comparação aos coagulantes químicos. Os cientistas citam o aumento na vida útil dos filtros, diminuição no volume de lodo gerado, aumento da eficiência na remoção de cor e turbidez. “Os taninos possuem também a propriedade de não alterar o pH da água tratada. Um dos fatores importantes no uso de coagulantes biodegradáveis no tratamento de efluentes é a redução do odor desagradável, causados pela ação dos microrganismos associados aos sulfatos usualmente utilizados na floculação atualmente”, explicou Bruna dos Anjos.

No Brasil, o coagulante mais utilizado é o sulfato de alumínio, obtido por meio da reação química entre o óxido de alumínio e o ácido sulfúrico e que comumente provoca irritação na pele e nas mucosas do nosso corpo. O acúmulo desses coagulantes convencionais nos lençóis freáticos apresentam sérios riscos, estando relacionado a doenças de coordenação motora, demência, Alzheimer e Mal de Parkinson. “Não bastasse, contém uma alta corrosividade, o que encurta a vida útil dos equipamentos e tubulações das estações de tratamento. A presença de cloro oriundo do cloreto férrico pode também causar corrosão tipo pitting, a mais destrutiva e incidente forma de corrosão”, acrescentou a professora Tatiane Azevêdo.

Coordenando o Grupo de Pesquisa Produtos Florestais Não Madeireiros, a cientista salientou que o caminho para patentear a invenção foi natural e representa o resultado de anos de pesquisa. “Essa é uma parte do que fazemos, mas, ainda assim, mostra que a ciência e a pesquisa são a essência para o surgimento de novas tecnologias, as quais trazem, inclusive, alternativas ecologicamente corretas, sustentáveis e com promissor potencial econômico”, finalizou a pesquisadora.

Acesse a notícia completa na página da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Fonte: Wilson Galvão, AGIR/UFRN. Imagem: Amostra dos flóculos, após a decantação, formados a partir do produto. Fonte: Divulgação, UFRN.

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