Notícia

Estudo científico recomenda excluir e afastar os parques eólicos offshore das áreas protegidas do Mediterrâneo

Estudo apresentou uma primeira avaliação dos potenciais impactos ambientais de grandes parques eólicos no Mediterrâneo

Divulgação, Universidade de Barcelona

Fonte

Universidade de Barcelona

Data

quinta-feira, 24 fevereiro 2022 12:05

Áreas

Conservação. Ecologia. Energia. Engenharia Ambiental. Geografia. Oceanografia. Sustentabilidade.

Uma equipe científica das áreas de Ciências Marinhas e Geografia da Universidade de Barcelona, ​​​​da Universidade de Girona, do Centro de Estudos Avançados de Blanes (CEAB-CSIC) e do Instituto de Ciências do Mar (ICM-CSIC), na Espanha,  recomenda excluir e afastar os parques eólicos offshore das áreas protegidas do Mediterrâneo devido aos graves impactos que essas instalações podem causar na biodiversidade marinha e na paisagem. Esta é uma das principais conclusões do trabalho publicado na revista científica Science of the Total Environment, do qual participou o Dr. Jordi Solé, professor da Faculdade de Ciências da Terra da Universidade de Barcelona.

O estudo apresentou uma primeira avaliação dos potenciais impactos ambientais de grandes parques eólicos no Mediterrâneo e, especialmente, em áreas de grande fragilidade ecológica e elevado valor paisagístico. Como estudo de caso, foi examinado o mega parque eólico offshore projetado em Cabo de Creus e no Golfo das Rosas, onde convergem oito áreas marinhas protegidas.

A equipe revisou cerca de 150 artigos de todo o mundo. O diagnóstico pretende ser útil para outros locais do Mediterrâneo e outros mares e oceanos do mundo onde convergem uma elevada biodiversidade, a existência de áreas marinhas protegidas, uma paisagem valiosa e importantes atividades pesqueiras e turísticas à escala local.

Especificamente, o estudo analisa pela primeira vez e de forma abrangente os impactos que estas instalações podem ter em toda a coluna de água: desde o plâncton no fundo do mar, e desde os peixes e crustáceos essenciais para a pesca até espécies sensíveis e protegidas, como baleias, golfinhos, tartarugas e algumas aves marinhas.

O artigo destaca que os mega parques eólicos offshore podem acarretar “graves riscos ambientais para o fundo do mar e a biodiversidade de muitas áreas do Mediterrâneo devido às características ecológicas e socioeconômicas particulares e à vulnerabilidade deste mar semifechado”. Além disso, “modelos como os do Mar do Norte” não podem ser importados diretamente, onde muitos parques eólicos offshore foram instalados. Para a equipe, o Mediterrâneo é caracterizado por sua “plataforma continental mais estreita, mas mais heterogênea e uma proporção maior de espécies e habitats ameaçados do que nos mares do norte da Europa”.

Parques eólicos: estruturas complexas

As estruturas das turbinas eólicas são complexas. Os parques eólicos subaquáticos flutuantes —os que seriam instalados principalmente no Mediterrâneo— requerem grandes sistemas de ancoragem e ancoragem que podem afetar a integridade do fundo do mar. Os mamíferos marinhos podem colidir ou ficar presos nesses sistemas. Além disso, o ruído gerado pelos parques eólicos se acumula com outros sons das atividades humanas, como a navegação, e impacta negativamente o comportamento dos mamíferos marinhos.

Além disso, essas plataformas flutuantes também são uma fonte de atração para espécies invasoras ou oportunistas que podem alterar o frágil equilíbrio local da biodiversidade. Este fenÔmeno é especialmente preocupante para os pesquisadores porque o Mediterrâneo é o mar europeu mais afetado pela chegada de espécies exóticas.

Além disso, turbinas eólicas flutuantes —com mais de 250 metros de altura— podem modificar a dinâmica das correntes atmosféricas e oceânicas locais. Essa circunstância pode afetar a produção de plâncton em um mar tipicamente pobre em nutrientes.

O estudo também afirma a necessidade de manter a biodiversidade marinha para combater as mudanças climáticas e mitigar seus efeitos. Segundo os autores do artigo, ficou demonstrado que os habitats marinhos têm grande potencial de armazenamento de carbono e são a própria solução da natureza para esse problema. Para a equipe científica, ecossistemas com maior biodiversidade são mais resistentes aos impactos das mudanças climáticas.

Áreas protegidas

Os impactos ecológicos dos parques eólicos offshore seriam “particularmente graves em áreas de grande biodiversidade e fragilidade, como o Cabo de Creus e o Golfo das Rosas”, alertam os autores. Nesse ponto, convergem até oito áreas marinhas protegidas reconhecidas nacional e internacionalmente. De acordo com acordos internacionais, um mínimo de 30% dos mares e oceanos deve ser protegido até 2030. Os pesquisadores apontam que, atualmente, no estado espanhol esse número representa 12%.

Pesca e turismo

O trabalho científico mostra que a exclusão da atividade pesqueira – incluindo a pesca artesanal – das áreas afetadas por parques eólicos offshore pode ter consequências econômicas, sociais e ambientais para os pescadores, a indústria pesqueira, as comunidades costeiras que dependem deste setor e a sociedade em geral. O projeto eólico de Cabo de Creus seria construído entre 8 e 30 quilômetros da costa, enquanto em 2019 a distância média de todos os parques eólicos offshore instalados na Europa era de quase 60 quilômetros da costa.

Mais recomendações para proteger o meio ambiente

O estudo conclui com uma série de recomendações para os formuladores de políticas com o objetivo de “racionalizar a corrida por propostas eólicas offshore no Mediterrâneo por empresas de energia”. Em primeiro lugar, segundo os cientistas, o princípio da precaução deve ser aplicado “para garantir o mais alto nível de proteção do meio ambiente, tomando decisões preventivas em caso de riscos ambientais evidentes, como é o caso”.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página da Universidade de Barcelona (em espanhol).

Fonte: Universidade de Barcelona. Imagem: Divulgação, Universidade de Barcelona.

Os comentários constituem um espaço importante para a livre manifestação dos usuários, desde que  cadastrados no Canal Ambiental e que respeitem os Termos e Condições de Uso. Portanto, cada comentário é de responsabilidade exclusiva do usuário que o assina, não representando a opinião do Canal Ambiental, que pode retirar, sem prévio aviso, comentários postados que não estejam de acordo com estas regras.

Leia também

2025 ambiental t4h | Notícias, Conteúdos e Rede Profissional em Meio Ambiente, Saúde e Tecnologias

Entre em Contato

Enviando
ou

Fazer login com suas credenciais

ou    

Esqueceu sua senha?

ou

Create Account