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Impacto da emissão de gases de efeito estufa a partir de incêndios em turfeiras é subestimado em 200% a 300%

As turfeiras armazenam pelo menos duas vezes mais carbono do que qualquer outro tipo de vegetação, mas 15% das turfeiras conhecidas do mundo foram danificadas irreversivelmente ou estão passando por extrema degradação

Earth Observing System Data and Information System (EOSDIS), NASA

Fonte

Frontiers Science News

Data

sexta-feira, 18 fevereiro 2022 12:10

Áreas

Ciência Ambiental. Desmatamento. Engenharia Ambiental. Mudanças Climáticas. Políticas Públicas.

Os incêndios florestais globais em 2019 e 2020, como os incêndios florestais na Austrália e na Califórnia e os incêndios de desmatamento no Brasil e na Indonésia, representaram entre 10% e 15% das emissões globais de Gases de Efeito estufa (GEE).

No Brasil, um total de 11.088 km2 de floresta foram destruídos de agosto de 2019 a julho de 2020. Em 2019, a Indonésia perdeu 31.000 km2 de floresta em incêndios de desmatamento. Muitos desses incêndios queimaram em ecossistemas de turfeiras ricos em carbono.

“O impacto que as atividades humanas estão causando nas florestas, especialmente em ecossistemas críticos como as turfeiras, não é bem comunicado ao público em geral”, explicou o autor Dr. Ramanan Krishnamoorti, professor do Departamento de Engenharia Química e Biomolecular da Universidade de Houston, nos Estados Unidos.

“Durante a temporada de incêndios de 2019 na Indonésia e no Brasil, observamos uma ampla gama de números sendo citados em comunicações científicas e de mídia. Queríamos entender a base desses números, mas enfrentamos desafios para acessar os dados. Isso nos levou a analisar as fontes de medição e erros, como os erros são compostos ao longo do tempo e seu impacto nas políticas”, continuou o Dr. Krishnamoorti.

Para isso, o professor Krishnamoorti e sua colega, Aparajita Datta, doutoranda na Universidade de Houston, quantificaram as emissões de GEE associadas aos incêndios de desmatamento de 2019 e 2020 no Brasil e na Indonésia e examinaram a parcela de emissões decorrentes de incêndios em turfeiras.

De sumidouros a fontes de carbono

Cobrindo apenas 3% da massa terrestre do mundo, as turfeiras existem em 180 países e são o maior sumidouro de carbono terrestre. Elas armazenam pelo menos duas vezes mais carbono do que qualquer outro tipo de vegetação, mas 15% das turfeiras conhecidas do mundo foram danificadas irreversivelmente ou estão passando por extrema degradação devido a atividades que apoiam o desenvolvimento humano.

Quando as turfeiras queimam, o CO2 armazenado é liberado na atmosfera, juntamente com outros GEEs, como monóxido de carbono (CO) e metano (CH4). Os incêndios em turfeiras são caracterizados pela queima lenta da vegetação de superfície e queima latente subterrânea de solos de turfa ao longo de dias ou semanas. As plumas de fumaça que acompanham contribuem para a poluição do ar, afetando a vida selvagem e a saúde humana.

Emissões de queimadas para desmatamento

Os pesquisadores usaram dados disponíveis publicamente para desmatamento no Brasil e na Indonésia para estimar o impacto total de GEE dos incêndios de desmatamento em 2019 e 2020. Eles contabilizaram as emissões de incêndios de biomassa acima do solo, bem como solos de turfa e matéria seca em turfeiras. Eles analisaram os dados disponíveis de todas as províncias da Indonésia e das regiões da Amazônia Legal e do Pantanal no Brasil.

Os resultados mostram que o Brasil e a Indonésia emitiram coletivamente quase 2 gigatoneladas de equivalentes de CO2 (CO2e) em 2019 e 1 gigatonelada de CO2e em 2020 a partir da queima de biomassa acima do solo.

Quando os pesquisadores incluíram as emissões de incêndios de desmatamento em turfeiras, o impacto combinado de GEE em ambos os países aumentou para 3,65 gigatoneladas de CO2e em 2019 e 1,89 gigatoneladas de CO2e em 2020.

Subestimação dos incêndios em turfeiras

Como os incêndios em turfeiras queimam principalmente no subsolo, sua detecção por satélites é um desafio. As espessas nuvens de fumaça limitam ainda mais a eficácia do monitoramento por satélite.

Os pesquisadores mostraram que o uso de dados baseados apenas em medições de satélite em tempo real fornece uma estimativa parcial e distorcida do impacto real das emissões de incêndios de desmatamento em turfeiras, o que, por sua vez, tem impacto nas políticas climáticas e na mitigação da crise climática.

Os resultados indicam que as emissões de turfa no Brasil e na Indonésia representaram entre 40% e 60% do impacto de GEE dos incêndios de desmatamento em ambos os países. A comparação dos resultados do estudo com estimativas anteriores de GEE mostra que os dados anteriores estão subestimando o verdadeiro impacto dos incêndios de desmatamento em duas a três vezes durante os anos de incêndios severos.

“Os desafios de monitoramento e medição em turfeiras levam a subestimar o verdadeiro impacto dos incêndios de desmatamento. Como essas estimativas formam a base da resposta política dos governos nacionais, isso resulta em atenção inadequada à proteção de florestas e turfeiras como parte dos esforços de mitigação da crise climática”, disse o Dr. Krishnamoorti.

O estudo destaca a necessidade de um melhor mapeamento dos ecossistemas das turfeiras e dos incêndios nas turfeiras, juntamente com medições regulares pré e pós-fogo para complementar as medições de satélite.

O estudo foi publicado na revista científica Frontiers in Climate.

Acesse o artigo científico completo (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do Portal Frontiers Science News (em inglês).

Fonte: Suzanna Burgelman, Frontiers Science News. Imagem: Visualização em cores naturais de fumaça e incêndios em vários estados do Brasil, incluindo Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, coletada pela NPP Suomi da NOAA/NASA usando o instrumento VIIRS (Visible Infrared Imaging Radiometer Suite) em 20 de agosto de 2019. Fonte: ‘Earth Observing System Data and Information System’ (EOSDIS), NASA.

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