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Mudanças Climáticas podem acabar com o sustento de famílias
Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) participaram de estudo que avaliou potenciais impactos que as mudanças climáticas causarão nos próximos 30 anos nas populações tradicionais amazônicas que dependem da floresta como principal forma de alimentação e sustento econômico. De acordo com a pesquisa, o desastre climático representa uma ameaça de diminuição, ou mesmo desaparecimento, de produtos como Castanha-do-Brasil, açaí, andiroba, copaíba, seringueira, cacau e cupuaçu nas reservas extrativistas da Amazônia brasileira.
Neste estudo foram avaliadas 18 espécies de árvores e palmeiras usadas para consumo próprio ou venda em 56 reservas extrativistas. Para cada uma delas foram gerados modelos computacionais que avaliaram fatores climáticos históricos dos locais onde elas vivem, como temperatura, umidade e tipo de solo, e feitas projeções para o ano de 2050, considerando as mudanças climáticas previstas pelos cientistas com base nas taxas atuais de emissão de CO2.
Os resultados indicam que, continuando neste caminho, as regiões climaticamente adequadas para o extrativismo terão um declínio de até 91% de sua área total. As áreas mais ameaçadas são o sul e o sudeste da Amazônia, regiões que atualmente já sofrem com queimadas, mineração e desmatamentos ilegais.
De acordo com a doutoranda Joine Cariele Evangelista-Vale, autora que liderou a pesquisa, “A verdadeira extensão dos efeitos das mudanças climáticas na Amazônia ainda é subestimada. Os cientistas já alertam há décadas sobre a perda acelerada da biodiversidade, e suas consequências negativas. Devido às ameaças crescentes e contínuas das mudanças climáticas, as estimativas dos impactos sobre as populações tradicionais nas reservas extrativistas ainda não foram bem compreendidas”.
As maiores perdas podem ocorrer para a Castanha-do-Brasil, com redução de 25% de sua área original de distribuição, e se tornar totalmente extinta em nove reservas extrativistas onde atualmente é extraída, afetando diversas famílias que dependem dela para sobreviver. Isso comprometeria a renda de 2.239 famílias extrativistas e de 410 pessoas associadas a cooperativas. Somente em 2019 foram cerca de 30 toneladas de Castanha-do-Brasil produzidas no norte do país, o que gerou cerca de U$ 23 milhões de dólares. O açaí também corre perigo e pode deixar de ocorrer em cinco reservas extrativistas, afetando mais de 330 famílias.
“Uma das principais medidas para evitar esse cenário é direcionar recursos financeiros para proteger as florestas em pé, com a criação de mais unidades de conservação e a proteção das que já existem; elaborar e implementar planos de manejo das reservas extrativistas, com a participação essencial das famílias extrativistas; e conduzir pesquisas científicas que contribuam para uma gestão eficiente das reservas extrativistas, como por exemplo desenvolver variedades mais resistentes de espécies vegetais utilizadas no extrativismo, e distribuir sementes e mudas para as famílias. É preciso que todo mundo reconheça o enorme valor que as famílias extrativistas têm em manter as florestas em pé”, concluiu a Dra. Christine Steiner São Bernardo, Diretora Executiva do Instituto Ecótono e pesquisadora da UFMT.
O estudo também teve a participação do professor Dr. Rafael Arruda e os pesquisadores Lucas Barros da Rosa e Rainiellen Carpanedo, da UFMT, além de pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
Acesse a notícia completa na página da UFMT.
Fonte: André Faust, UFMT.
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