Notícia
Resíduos farmacológicos são encontrados em água destinada ao consumo humano
As análises foram feitas em Estações de Tratamento de Águas (ETAs) e as maiores concentrações foram de carbamazepina, um medicamento utilizado contra epilepsia e dores neuropáticas
Pixabay
Fonte
Jornal da USP
Data
quinta-feira, 22 abril 2021 07:30
Áreas
Gestão de Resíduos. Saneamento. Sociedade. Saúde Pública.
Análises em amostras de água de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) em Jaboticabal/SP detectaram a presença de substâncias farmacológicas e de cafeína em águas superficiais, que servem como fonte para o consumo humano. Segundo pesquisadores, mesmo em concentrações baixas esses agentes tóxicos podem trazer riscos à saúde e ao ambiente aquático. Os maiores níveis encontrados foram de carbamazepina, um medicamento utilizado contra epilepsia e dores neuropáticas.
As outras substâncias investigadas foram atenolol, clonazepam, fluoxetina, haloperidol, ibuprofeno, paracetamol, sinvastatina, venlafaxina e a cafeína. As coletas foram realizadas em 2019, em estações chuvosas e de estiagem. A pesquisa faz parte da tese de doutorado de Ana Carla Coleone de Carvalho, com orientação do professor Dr. Wanderley da Silva Paganini, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
Águas superficiais dizem respeito aos recursos hídricos que ficam acumulados na superfície do solo: rios, riachos, lagos, pântanos, mares, etc.; e que por se encontrarem em regiões de mais fácil acesso, têm sido as principais fontes de abastecimento do planeta. Nesses corpos d’água, há uma variedade de contaminantes e poluentes tanto de origem natural quanto provenientes de efluentes domésticos e industriais, como mostra o estudo.
Ana Carla explicou ao Jornal da USP que, devido ao elevado consumo de fármacos, depois de serem utilizados pelas pessoas, uma parcela é excretada pelas fezes e pela urina e acaba chegando às Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e, posteriormente, é escoada para os rios, junto com os resíduos sanitários. “Isso acontece principalmente em locais onde o saneamento básico é precário. A presença de substâncias tóxicas pode ser explicada pela liberação do esgoto sem tratamento diretamente nos corpos d’água, fontes de extração de águas das ETAs”, diz.
Resultados
“Houve maior concentração de contaminantes em períodos de secas, porque nessa época os corpos d’agua têm baixa vazão, fazendo com que haja pouca diluição de elementos tóxicos”, disse a pesquisadora. Os maiores níveis foram de carbamazepina, venlafaxina, fluoxetina e cafeína, porém, neste caso, as substâncias foram removidas depois da água tratada. Quanto ao ibuprofeno, o paracetamol, o atenolol, a sinvastatina, o clonazepan e o haloperidol, não foram detectados nas amostras analisadas ou ficaram abaixo do nível de quantificação atingido pelo método analítico.
Efeitos Adversos
Ana Carla explicou que, por permanecerem biologicamente ativos nos corpos d’água, os compostos são capazes de atravessar as membranas biológicas e atingir células e tecidos, o que pode desencadear efeitos indesejáveis em organismos não alvos e à saúde humana, mesmo em concentrações muito baixas. Por organismos não alvos, Ana Carla citou outras espécies (peixes, algas, crustáceos, dentre outros).
Segundo a pesquisadora, os principais efeitos observados para os compostos detectados nesse estudo foram comportamentais (estresse, ansiedade e efeito antipredador); fisiológicos metabólicos (alteração nas respostas imunes em vias oxidativas e bioquímicas); e reprodutivos (alteração na desova e malformação dos embriões). Houve também impacto na maturidade e desenvolvimento dos organismos aquáticos, alteração no ritmo circadiano (ciclo biológico de vigília/sono), dentre outros.
Acesse a tese defendida na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Acesse a notícia completa na página do Jornal da USP.
Fonte: Ivanir Ferreira, Jornal da USP. Imagem: Pixabay.
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