Notícia

Uso de resíduos para geração de bioenergia pode neutralizar as emissões de gases-estufa de São Paulo

Descartes agrícolas já contribuem com 25% da produção de eletricidade utilizada em residências nas cidades paulistas e esse porcentual pode saltar para 70%, apontaram pesquisadores participantes de seminário on-line sobre o tema

Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP

Fonte

Agência FAPESP

Data

quarta-feira, 10 março 2021 06:25

Áreas

Energia. Gestão de Resíduos. Mudanças Climáticas.

O maior aproveitamento de descartes da produção agrícola para a geração de energia e o uso de resíduos sólidos urbanos para essa mesma finalidade poderiam tornar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de São Paulo neutras ou negativas, avaliam pesquisadores ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

O Estado já possui matriz energética entre as mais limpas do mundo, com a participação de mais de 50% de biocombustíveis para o transporte, e o uso de resíduos agrícolas para a geração de energia já contribui com 25% da eletricidade utilizada nas residências das cidades paulistas.

Essa participação de resíduos pode saltar para 70% com o uso de parte da palha da cana-de-açúcar deixada no campo após a colheita e para 98% com o uso total desse insumo para a cogeração de energia pelas usinas sucroalcooleiras paulistas que aderiram ao Renovabio – programa do governo federal que visa expandir a produção de biocombustíveis –, apontou a Dra. Gláucia Mendes de Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e membro da coordenação do BIOEN, durante o seminário on-line Valorização de resíduos, realizado no dia 24 de fevereiro.

“O potencial de geração de bioeletricidade por resíduos produzidos por outros segmentos do agronegócio, como o sebo animal descartado pela indústria da carne, é tão grande quanto o da cana-de-açúcar. Há ainda uma série de resíduos de outras biomassas disponíveis no Estado de São Paulo, que tem 190 mil quilômetros quadrados plantados com lavouras, pastagens e florestas destinadas ao uso econômico”, disse a Dra. Gláucia Souza.

No seminário, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente assinaram um protocolo de intenções com o objetivo de estimular projetos científicos e tecnológicos voltados à valorização dos resíduos.

“O foco da parceria é fazer com que os resíduos deixem de ser um problema e se tornem oportunidades e benefícios para a sociedade. Visa também ao desenvolvimento principalmente de ações focadas na questão da bioenergia, que inclui a produção de biocombustíveis como o etanol de segunda geração, biodiesel e biogás. São ações que procuram substituir derivados de petróleo na matriz energética do Estado de São Paulo, que já é muito especial em comparação com a de outras regiões no mundo”, disse o Dr. Marco Antônio Zago, presidente da FAPESP.

“A parceria com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente permitirá transpor o conhecimento produzido em laboratórios para a escala da produção e de uso pela sociedade”, acrescentou o Dr. Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.

Bioenergia e bioprodutos

Nos últimos anos, pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Nipe-Unicamp) têm desenvolvido métodos para localizar, quantificar e caracterizar esses resíduos agrícolas e urbanos para produção de bioenergia e redução das emissões de equivalente em dióxido de carbono (CO2).

A metodologia de localização, desenvolvida pelo professor Dr. Rubens Augusto Camargo Lamparelli, é baseada na aquisição por satélites de dados e mapas com resolução espacial de 250 metros e em intervalos de 16 dias. Por meio das ferramentas espaciais é possível identificar a região onde estão os resíduos agrícolas e urbanos e avaliar a viabilidade econômica de instalar uma indústria processadora para conversão desses insumos em bioenergia e bioprodutos, por exemplo.

O método foi aplicado inicialmente para avaliar a região administrativa de Campinas, que abrange 92 cidades. Os pesquisadores constataram que os resíduos mais abundantes têm origem na produção de cana-de-açúcar e que os resíduos sólidos urbanos ainda hoje descartados em aterros sanitários teriam potencial para produzir energia em proporção equivalente ao de uma usina sucroalcooleira, produzindo 100 milhões de litros por ano.

“Isso não quer dizer que se deve usar lixo para produzir biocombustível. É apenas um exemplo de desperdício de um insumo valioso”, sublinhou a Dra. Telma Franco, professora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp e pesquisadora do Nipe.

Os cientistas também avaliaram o potencial de produção de biometano a partir da matéria orgânica dos resíduos urbanos sólidos enviados aos mais de dez aterros sanitários localizados na região metropolitana de Campinas.

“Verificamos que esse material tem potencial de gerar mais de 120 milhões de metros cúbicos de biometano por ano”, afirmou a Dra. Telma Franco.

Acesse a notícia completa na página da Agência FAPESP.

Fonte: Elton Alisson, Agência FAPESP. Imagem: Léo Ramos Chaves, Pesquisa FAPESP.

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