Notícia

Mudanças climáticas influenciam globalmente os fluxos dos rios

Fonte

ETH Zurique | Instituto Federal de Tecnologia de Zurique

Data

segunda-feira, 15 março 2021 10:15

Áreas

Ecologia. Geociências. Mudanças Climáticas. Recursos Hídricos.

As mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio hídrico do planeta: dependendo da região e da época do ano, isso pode influenciar a quantidade de água nos rios, resultando potencialmente em mais enchentes ou secas. A vazão de um rio é um indicador importante dos recursos hídricos disponíveis para o homem e para o meio ambiente. A quantidade de água disponível também depende de outros fatores, como intervenções diretas no ciclo da água ou mudança no uso da terra: se, por exemplo, a água é desviada para irrigação ou regulada por meio de reservatórios, ou as florestas são desmatadas e monoculturas cultivadas em seu lugar, isso pode ter um impacto no fluxo de um rio.

No entanto, apesar do fluxo dos rios ter mudado em todo o mundo nos últimos anos, este tema ainda não não tinha sido investigado por meio de observações diretas. Da mesma forma, a questão de saber se as mudanças globalmente visíveis são atribuíveis às mudanças climáticas ou à gestão da água e da terra não tinha sido esclarecida.

Agora, uma equipe de pesquisa internacional liderada por especialistas do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurique) conseguiu compreender a influência desses fatores, após analisar dados de 7.250 estações de medição em todo o mundo. O estudo, publicado na revista científica Science, demonstra que o caudal dos rios mudou sistematicamente entre 1971 e 2010. Padrões complexos foram revelados – algumas regiões como o Mediterrâneo e o Nordeste do Brasil ficaram mais secos, enquanto em outras regiões o volume de água aumentou, como na Escandinávia.

A busca pelas causas

“A verdadeira questão, entretanto, dizia respeito à causa dessa mudança”, disse o Dr. Lukas Gudmundsson, principal autor do estudo e assistente sênior no grupo liderado pela Dra. Sonia Seneviratne, professora do Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas do ETH Zurique.

Para responder a essa questão, os pesquisadores realizaram várias simulações em computador, usando modelos hidrológicos globais alimentados com dados climáticos observados no período estudado (1971 a 2010). Os resultados dos cálculos do modelo corresponderam de perto à análise do fluxos dos rios observados. “Isso significa que as condições climáticas podem explicar as tendências observadas nos volumes de fluxo”, disse o Dr. Gudmundsson. Em um segundo procedimento, os pesquisadores incluíram o manejo adicional da água e da terra em suas simulações para estudar a influência desses fatores. Isso não afetou o resultado, no entanto. “Evidentemente, as mudanças na gestão da água e do solo não são a causa das mudanças globais nos rios”, disse o pesquisador.

Embora a gestão da água e o uso do solo possam resultar em grandes flutuações locais nos volumes de fluxo, investigar isso não estava dentro do escopo do estudo, acrescentou o Dr. Gudmundsson: “Para nós, não se tratava de tendências locais, mas de mudanças globais que se tornam visíveis em períodos mais longos. ” É por isso que os pesquisadores não consideraram dados de estações de medição individuais de forma isolada, mas os agruparam em regiões subcontinentais maiores para a análise, tornando assim possível identificar a influência das mudanças climáticas.

O impacto dos gases de efeito estufa

Os pesquisadores foram capazes de comprovar o papel das mudanças climáticas usando o método de detecção e atribuição. Para isso, eles compararam as observações com simulações de modelos climáticos que foram calculados uma vez com gases de efeito estufa produzidos pelo homem e uma vez sem. No primeiro caso, a simulação coincidiu com os dados reais, mas no segundo caso não. “Isso sugere que as mudanças observadas são altamente improváveis ​​sem as mudanças climáticas”, reafirmou o Dr. Gudmundsson.

O estudo é o primeiro a usar observações diretas para demonstrar que as mudanças climáticas têm uma influência globalmente visível nos rios. “Isso só foi possível graças à grande colaboração entre pesquisadores e instituições de 12 países”, enfatizou o Dr. Gudmundsson. A coleta de dados de 7.250 estações de medição em todo o mundo também foi o resultado de um esforço conjunto: os pesquisadores reuniram os dados com parceiros de colaboração australianos em um estudo anterior. Esses dados agora representam o maior conjunto de dados global com observações de fluxo de rios disponíveis hoje. “Graças a esses dados, pudemos validar os modelos e demonstrar que eles refletem bem a realidade”, afirmou o professor Gudmundsson.

Isso significa que os modelos também podem fornecer cenários confiáveis ​​sobre como os rios continuarão a mudar no futuro. Essas projeções fornecem uma base importante para o planejamento nas regiões afetadas, a fim de garantir o abastecimento de água e se ajustar às mudanças climáticas.

Acesse o resumo do artigo científico (em inglês).

Acesse a notícia completa na página do ETH Zurique (em inglês).

Fonte: Claudia Hoffmann, ETH Zurique. Imagem: Pixabay.